No início de junho, as joaninhas viraram notícia.
Meteorologistas do Serviço de Meteorologia Nacional examinavam imagens de radar na Califórnia na noite de quatro de junho, quando avistaram o que parecia ser uma grande faixa de chuva. Mas não havia nuvens.
Os meteorologistas contataram um observador amador do clima que estava sob o distúrbio misterioso. Ele não estava ficando encharcado; em vez disso, via um monte de joaninhas. Por toda parte.
O radar aparentemente mostrava uma nuvem de joaninhas migratórias espalhada por quase 140 km, com um núcleo denso de 16 km de largura, a cerca de 1.500 a 2.700 metros de altura. Mesmo com todo esse tamanho, os meteorologistas perderam o enxame. As joaninhas desapareceram na noite.
Comparadas a outras migrações de animais, as migrações de insetos são um mistério científico. É fácil detectar um rebanho de gnus cruzando a savana. Insetos, mesmo em números enormes, se movem de um lugar para outro sem chamar muita atenção. Um dia você olha e as joaninhas estão em toda parte.
"As migrações em si são totalmente invisíveis", disse Jason Chapman, ecologista da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha.
Chapman e seus colegas estão usando radares para detectar migrações de insetos. Os cientistas ajudam a manter uma rede única de pequenas estações de radar no sul da Inglaterra, projetada para vigiar o céu 24 horas por dia em busca de insetos.
"Esses radares são fantásticos. Obtemos um monte de informações sobre cada inseto individual que passa voando, incluindo sua forma e medidas de tamanho", disse Chapman.
Recentemente, Chapman e seus colegas decidiram buscar imagens de um tipo de inseto em particular, conhecido como mosca das flores.
Você provavelmente já viu uma, mas pode tê-la confundido com uma vespa ou uma abelha. As moscas das flores são inofensivas, mas evoluíram para imitar insetos que picam como uma maneira de afastar os predadores.
Elas trazem dois grandes benefícios ecológicos. Como larvas, defendem jardins e plantações comendo pulgões. Como adultas, polinizam as flores enquanto comem néctar e pólen.
"Não acho que poderíamos criar um inseto mais útil", disse Chapman.
Os cientistas tinham pistas de que algumas espécies de moscas das flores migravam, mas não sabiam muito sobre a época ou a escala de seus movimentos.
Para verificar a migração delas pelo sul da Inglaterra, Chapman e seus colegas trouxeram uma espécie específica, a Episyrphus balteatus, para o laboratório e a examinaram com o radar. Eles determinaram as marcas características do inseto e depois procuraram por ele em buscas feitas por sua rede de instrumentos.
Os resultados, publicados quinta-feira na revista "Current Biology", revelaram hordas de insetos voando. Os cientistas estimam que até quatro bilhões dessas moscas entram e saem do sul da Inglaterra a cada ano.
Mas o verdadeiro número é provavelmente maior, porque o sistema de radar só pode detectar insetos voando a mais de 140 metros de altura. (Em comparação, estima-se que existam cinco bilhões de abelhas em colmeias gerenciadas por toda a Grã-Bretanha.)
Cada mosca das flores pode viajar de 80 a 160 quilômetros por dia, e em um ano de migração elas podem passar por várias gerações. Essa migração em massa tem uma enorme influência sobre o meio ambiente. Chapman e seus colegas estimam que as larvas produzidas pela migração das moscas todos os anos no sul da Inglaterra devorem uma média de seis trilhões de pulgões – que, juntos, pesam cerca de sete mil toneladas.
Os pesquisadores estimam que as moscas das flores importem de três bilhões a oito bilhões de grãos de pólen para o sul da Inglaterra na primavera, e então levem de três bilhões a 19 bilhões de grãos de pólen com elas quando voam para o sul no outono.
As moscas visitam bilhões de flores todos os anos e, conforme viajam ao longo de sua rota de migração, carregam o pólen por longas distâncias. Os pesquisadores estimam que as moscas das flores importem de três bilhões a oito bilhões de grãos de pólen para o sul da Inglaterra na primavera, e então levem de três bilhões a 19 bilhões de grãos de pólen com elas quando voam para o sul no outono.
Esses insetos são importantes não apenas pelo que comem e pelo pólen que carregam. Eles próprios são pequenos pacotes de nutrientes. Muitos são consumidos por predadores; outros fertilizam o solo depois que morrem. Eles formam cerca de 80 toneladas de biomassa, que contêm 35 milhões de calorias, estimam os pesquisadores.
"Acho que as pessoas ficarão maravilhadas com a escala das migrações e com a importância de seus serviços ecossistêmicos", disse Chapman.
Outras espécies de insetos, como as joaninhas, poderiam estar migrando de forma semelhante em outras partes do mundo. Mas há poucos pesquisadores usando radar para rastreá-los. Na Austrália, os cientistas estão buscando gafanhotos, e Chapman está na China ajudando pesquisadores a montar uma nova rede de rastreamento de insetos.
Entender essas migrações é muito importante, disse ele, porque muitas populações de insetos não migratórios estão em declínio. Por outro lado, as migrações de moscas das flores permaneceram estáveis durante a última década.
É possível que elas sejam mais resistentes porque não estão presas a um só lugar, vulneráveis à poluição ou às alterações climáticas.
"Essas moscas migratórias, em nossa parte do mundo, pelo menos, estão se saindo muito bem, e assim podem estar desempenhando um papel cada vez mais importante para o futuro", disse ele.
Por Carl Zimmer