Não só de inovações e tecnologia vive uma das maiores feiras de eletrônicos do mundo, a Consumer Electronics Show (CES) 2019 de Las Vegas, nos Estados Unidos, que ocorre até sexta-feira (11). Nesta semana, uma polêmica envolvendo questões de sexismo saiu dos bastidores para a web: a organizadora do evento, a Consumer Technology Association (CTA), premiou uma startup pela criação de um vibrador de massagem pessoal, o Osé. A questão é que, um mês depois, retirou a condecoração.
Tudo veio à tona por um relato de Lora Haddock, CEO da empresa Lora DiCarlo, que postou uma carta aberta no site da companhia na terça-feira (8). Na postagem, Lora relata que inscreveu o aparelho criado por engenheiras e que ela e sua equipe ficaram muito felizes quando foram comunicadas que tinham recebido o Prêmio Honorário para Produtos de Robótica ou Drones. A empresária acredita que o prêmio foi retirado por machismo.
"Um mês depois (da comunicação do prêmio), nossa empolgação e preparativos foram interrompidos quando fomos inesperadamente informados de que os administradores do CES e do CTA estavam rescindindo nosso prêmio e, subsequentemente, que não seriamos permitidos mostrar Osé, ou mesmo expor na CES 2019", escreveu Lora.
A CEO diz que a CTA tem sido muito cautelosa em explicar os motivos da retirada do prêmio, mas que encaminhou um comunicado a Lora em que diz que "as inscrições consideradas pela CTA, a seu exclusivo critério, como imorais, obscenas, indecentes, profanas ou não, de acordo com a imagem da CTA, serão desqualificadas. A CTA se reserva o direito, a seu exclusivo critério, de desqualificar qualquer inscrição a qualquer momento que, na opinião da CTA, coloque em risco a segurança ou o bem-estar de qualquer pessoa".
Na mesma postagem, Lora apresenta Osé como "o primeiro dispositivo de mãos livres do mundo para o santo graal dos orgasmos (...). Nossa equipe, quase inteiramente feminina, de engenheiras, está desenvolvendo uma nova tecnologia microrrobótica que imita todas as sensações de boca, língua e dedos humanos, para uma experiência que se sente como um parceiro real. (...) Estamos falando de robótica verdadeiramente inovadora".
Em comunicado oficial, a CTA deu outra justificativa para ter desclassificado o vibrador: disse que Osé não se encaixava em nenhuma das categorias de produtos existentes e que foi um erro ter sido aceito pela comissão julgadora. Não explica, no entanto, porque Lora não poderia exibir o produto em nenhum estande da CES 2019.
O site Techrunch lembrou que, em 2016, a CES reconheceu produtos como o OhMiBod, um vibrador que ganhou na categoria Saúde Digital e Produtos Fitness. O aparelho vibrava em ritmo da música tocada em iPod da usuária. O mesmo item reapareceu na feira deste ano, em um novo modelo com controle remoto.
Lora lembra também que, em 2018, "uma boneca sexual literal para homens foi lançada no andar da CES" e que uma empresa de pornografia de realidade virtual tem presença recorrente na feira, "permitindo que os homens assistam à pornografia em público enquanto os consumidores caminham".
Toda a polêmica sobre o vibrador e as acusações de machismo por parte da startup que o inventou surgiram um dia antes da CTA anunciar um investimento de US$ 10 milhões para
"empresas de capital de risco e fundos focados em mulheres, pessoas de cor e outras startups e empreendedores sub-representados".