Um grupo de pesquisadores em tecnologia da PUCRS trabalha no desenvolvimento de uma ferramenta idealizada para combater as notícias falsas na internet. Produzidas e disseminadas por grupos estruturados, ocultos e que atendem a interesses particulares, as fake news, criadas para destruir reputações e manipular pessoas, já são classificadas entre estudiosos como um risco à democracia, à soberania nacional e à livre concorrência de mercado.
O mecanismo, em reta final de experimento, é um aplicativo. Uma vez instalado no aparelho celular, ele deverá emitir sinais – de cor verde ou um polegar com indicação positiva – para indicar que a notícia lida naquele momento é verdadeira. O aviso seria automático, surgiria na tela instantes após o acesso de determinado site, sem a necessidade de abrir o aplicativo e disparar manualmente comandos de análise. Em caso de a notícia ser falsa, poderão ser mostrados ao leitor um polegar negativo, um alerta em cor vermelha ou, de forma mais branda, uma mensagem de que não foi possível confirmar a veracidade do conteúdo.
— Estamos tentando achar um meio tecnológico para ajudar as pessoas, impedir que elas sejam manipuladas. As fake news são um problema muito grave não só para a mídia tradicional, mas para os governos, as empresas e a sociedade como um todo. As pessoas não estão refletindo, recebem qualquer informação e, se mais ou menos bate com o que elas acreditam, passam a ter aquilo como verdadeiro — destaca o professor Avelino Zorzo, professor do programa de pós-graduação em Ciência da Computação da PUCRS, com atuação no Grupo de Confiabilidade e Segurança de Sistemas da universidade.
Ao abordar o estágio atual do aplicativo, informa que a previsão é ter o primeiro protótipo ainda no primeiro semestre de 2018.
— A solução tecnológica está próxima, mas outra coisa necessária é torná-la amigável ao usuário final. Trabalhamos nisso agora, em como transformar essa solução em algo que as pessoas consigam usar sem ter muito conhecimento em computação. Se não for simples, o usuário final não acessa — diz Zorzo, que também é membro da comissão especial em segurança da Sociedade Brasileira de Computação (SBC).
Ele explica que a ferramenta, para alcançar bom nível de desempenho, terá de contar com o auxílio de veículos de comunicação e entidades de reconhecida credibilidade. Será necessário abastecer a solução com informações confiáveis para que ela possa identificar as fake news. O principal objeto de análise, explica Zorzo, devem ser sites desconhecidos, de reputação duvidosa, e que são impulsionados em redes sociais e WhatsApp trazendo conteúdos sensacionalistas, distorcidos ou mentirosos.
Blockchain como mecanismo auxiliar
Em paralelo, pesquisadores orientados por Zorzo buscam criar um mecanismo auxiliar de combate às fake news para evitar que notícias de veículos de credibilidade sejam distorcidas e incutidas por falsidades em meios virtuais, inclusive com a reprodução de suas logomarcas, com o objetivo de ludibriar desavisados que não percebam montagens digitais. Para isso, a ideia, ainda objeto de pesquisa, é aplicar uma ferramenta chamada "blockchain".
— Blockchain é a tecnologia utilizada no bitcoin. Você registra nela uma determinada informação e, uma vez registrada lá, não pode mais ser alterada. Estamos investigando se a blockchain pode ser utilizada para proteger as notícias verdadeiras. O jornal poderia ter notícias certificadas por uma rede dentro da blockchain, para que não sejam alteradas. Isso tem acontecido: pegam uma notícia verdadeira e alteram, colocam dados falsos, e passam a sensação de que veio da Zero Hora ou da Veja, mas não veio de lá. Isso tem sido constante nas redes sociais — explica Zorzo.