Teve gente dirigindo Ferraris em altíssima velocidade e desembarcando com as pernas bambas, suor a escorrer pela testa, em pleno campus da ESPM-Sul, durante este final de semana.
Eram Ferraris virtuais, reconheça-se, mas a sensação de voar pela pista e o frio na espinha ao perder o controle em uma curva foram autênticos. A experiência, oferecida durante o Festival da Transformação, era proporcionada por dois simuladores desenvolvidos e construídos por um grupo de jovens sediados em Canoas.
Depois de alguns minutos com o volante nas mãos e uns óculos de realidade virtual à roda da cabeça, o publicitário Lucas Arcanjo, 24 anos, desceu da engenhoca com braços e pernas a tremer.
— Foi fantástico! Quando a gente olha de fora, não parece, mas depois que coloca o visor, nossa!, a sensação física é incrível. Definitivamente me senti dentro do carro, senti o tranco, as batidas, o motor, uma velocidade que nunca experimentei — contou.
O engenheiro de controle e automação Gabriel Sffair, 31 anos, um dos sócios da BS Motion, empresa que criou o equipamento, conta que a história do simulador começa em 2008, quando ele o irmão mais velho, também engenheiro, construíram uma versão mais simples, com canos de PVC. Em 2012, levaram a uma Campus Party, em São Paulo, um projeto mais complexo e inovador: um simulador de voo que girava 360º — e que motivou um convite para Sffair fazer um estágio em robótica na Nasa, em Washington (EUA).
O atual simulador, do qual já existem dez exemplares, mostrou-se promissor, e no começo deste ano Sffair deixou o emprego que ocupava boa parte do seu tempo para dedicar-se exclusivamente à BS Motion. O modelo de negócio adotado por ele e pelos sócios tem duas vertentes: alugar o equipamento para eventos e explorar bilheteria.
O ponto de partida para o simulador é um game comercial — mais especificamente o jogo italiano Assetto Corsa — que qualquer um pode comprar e jogar no computador. Só que ele não é usado no computador, mas em uma plataforma móvel que reproduz os movimentos que o carro realiza no jogo. O utilizador sobe na estrutura, acomoda-se no assento e tem diante de si volante e pedais. É quando põe o óculos de realidade virtual que percebe o quão próximo da realidade será a experiência: ele se vê dentro de uma Ferrari, no comando dela, em uma pista de corrida cercada por bosques. A plataforma se move, fazendo o piloto sentir que realmente está dentro do carro. Já houve gente mais sensível que se pôs a gritar e abandonou o assento abruptamente, por considerar a experiência assustadora.
— O desafio é fazer com que a pessoa sinta o jogo como se fosse na vida real, é gerar uma experiência de imersão — explica Sffair.
Os sócios passaram duas noites em claro para terminar os dois modelos — que permitem que duas pessoas pilotem ao mesmo tempo na pista virtual — levados ao Festival da Transformação. Curiosos fizeram fila para testar o equipamento.
— Fiquei surpreendido com o quanto é realístico. É totalmente diferente de jogar um videogame — avaliou o espanhol José Gutiérrez, 37 anos.
O Festival da Transformação ocorreu durante todo o fim de semana, com um programação de shows, palestras e outras atrações, somando mais de 450 atividades simultâneas.