"Estou com provas suas no motel. Entrei em contato para fazer um acordo. Se me pagar, não vai chegar até ela".
Essa é uma das ameaças de um trio especializado em aplicar o chamado "golpe do motel". Neste caso, a vítima entregou R$ 6 mil aos estelionatários após ser coagida e extorquida pelos criminosos, acreditando que assim evitaria que as provas da traição chegariam até a esposa. Os suspeitos de integrarem a quadrilha são alvo de operação da Polícia Civil nesta segunda-feira (11).
Três mandados são cumpridos nesta manhã, dois deles de prisão temporária e um de prisão preventiva. Três homens, de 30, 31 e 37 anos, foram identificados como suspeitos de praticar os crimes de extorsão e associação criminosa. Até as 10h, dois suspeitos haviam sido presos.
As ordens judiciais são cumpridas nas residências desses suspeitos em São Leopoldo e Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
O caso chegou até a 3ª Delegacia de Polícia de Canoas em fevereiro, quando uma vítima do golpe registrou boletim de ocorrência. A polícia conseguiu mapear as movimentações telefônicas e financeiras e identificar os possíveis criminosos e outras 20 vítimas. Os criminosos atuariam realizando o golpe há cerca de um ano.
Como agiam
Os criminosos ficavam de vigia, dentro de carros, na frente de motéis de alto padrão da Região Metropolitana e da Serra para escolher as vítimas. Com atuação especialmente após o meio-dia — num horário no qual muitas das vítimas procuravam os motéis com acompanhantes — eles elegiam pessoas que preferencialmente chegavam em carros de luxo. Depois, produziam fotos e gravavam vídeos da pessoa na saída do motel, assim como do veículo utilizado.
A partir da placa do automóvel, segundo a polícia, o trio aplicava técnicas de engenharia social para localizar o telefone da vítima e começar a chantagem. Os golpistas juntavam, por meio de pesquisas na internet, o máximo de informações acerca de cada alvo para dar aspecto de veracidade à extorsão. Dessa forma, conseguiam até mesmo fingir que eram detetives particulares.
— Eles começavam a fazer esses vínculos: o vínculo dele com a mulher, com o filho, com os amigos. Descobriam o que a pessoa fazia, o nome dos parceiros. Tudo isso eles usavam para cobrar dinheiro depois — contextualiza a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas.
Após descobrir o telefone das vítimas e preparar o dossiê com imagens da visita ao motel, a quadrilha mandava mensagens aos alvos. Em alguns casos, os criminosos se passavam por detetives, alegando que os respectivos parceiros os haviam contratado para descobrir eventuais traições.
Na versão dos golpistas, as visitas aos motéis poderiam seguir escondidas dos companheiros, caso a vítima se submetesse a pagar valores. Caso contrário, o grupo ameaçava expor as imagens aos cônjuges, familiares e amigos do alvo.
De acordo com a delegada Luciane, em alguns casos a cobrança de valores chegou a R$ 15 mil.
Vergonha era aliada dos golpistas
Uma das características desta investigação foi a cautela das vítimas para denunciar o golpe.
Envergonhadas, muitas delas não queriam levar o assunto adiante. Apenas oito das 21 vítimas mapeadas pela polícia resolveram prestar depoimento para auxiliar na apuração do caso.
A primeira vítima, identificada em fevereiro, foi a única que registrou um boletim de ocorrência.
— Nós temos várias vítimas que pagaram. A maioria dela não quis nem dar depoimento. Uma das vítimas inclusive dividiu o valor com o amante, a pessoa que estava com ela no motel — explica a delegada.
Fique atento para não cair em golpes
Saiba como se prevenir de outros casos de estelionato:
- Evite conversar com estranhos na rua e na frente de caixas eletrônicos.
- Mantenha bem guardados quantias em dinheiro e cartões de débito e crédito, bem como outros pertences pessoais.
- Preste atenção, pois, em geral, mais de uma pessoa participa desse golpe, como alguém supostamente acima de qualquer suspeita.
- Jamais forneça seus dados bancários, cartões e senhas para qualquer pessoa desconhecida.
- Fique atento aos telefonemas de pessoas estranhas, principalmente de outros Estados. Em geral, ocorre uma primeira conversa para ter informações da vítima para em seguida aplicar o golpe.
- Se alguém realmente possuir um bilhete premiado, não irá dividir o prêmio com outra pessoa, ainda mais um desconhecido, por nenhum motivo. O ganhador também não irá vender esse prêmio em troca de dinheiro vivo, pois em algum momento o premiado obterá a quantia.
- Caso seja mais uma vítima desse crime, não deixe de registrar ocorrência na Polícia Civil.
Fonte: Polícia Civil