Uma comunidade terapêutica que atende dependentes químicos em Viamão foi interditada por suspeita de agressão, tortura e cárcere privado aos pacientes. O monitor do local foi preso.
A ação ocorreu na tarde de segunda-feira (28), no bairro Fiúza. Conforme a delegada Jeiselaure de Souza, da 1ª Delegacia de Polícia de Viamão, mais de 20 internos relataram ter sido espancados, algemados e sedados. Medicamentos seriam prescritos sem receita, e as vítimas, agredidas com tapas e socos.
— Alguns dos internos sofreram fraturas. Pelo menos quatro deles tiveram que ser levados pelo Samu para receber atendimento — afirma a delegada.
Além das agressões, os pacientes eram submetidos a condições insalubres, alimentados com produtos sem procedência. Foram encontrados no local 22 pacotes de carne de gado sem prazo de validade e sem identificação, e a carcaça de um tatu, que teria sido morto e congelado para consumo. As vítimas alegam que eram forçadas a comer alimentos estragados.
Conforme a polícia, a clínica tinha alvará de funcionamento, concedido pela prefeitura de Viamão, e operava de forma legal. Procurado, o município informou, em nota, que "o alvará emitido para aquele endereço se referia a um estabelecimento já fechado". Acrescentou que durante fiscalização, em setembro, "fiscais da Secretaria detectaram a reabertura do estabelecimento com novos proprietários e notificaram os responsáveis" (leia a íntegra da nota abaixo).
Os internos foram encaminhados para outra clínica da cidade pela Secretaria Municipal de Assistência Social.
Proprietário foi preso em Cidreira
A ação na Região Metropolitana foi um desdobramento da interdição de uma outra clínica, em Cidreira, que, segundo a polícia, praticava crimes semelhantes. O local pertencia ao mesmo proprietário, que foi preso também na segunda-feira, na cidade do Litoral Norte. Os nomes dos suspeitos presos não foram divulgados.
Um dos internos da clínica de Cidreira teria sido encaminhado contra a vontade para a unidade de Viamão, algemado, segundo relato da vítima, que diz ter sido agredida durante todo o trajeto.
— Estamos investigando agora se há outros locais desse mesmo dono em outras partes do Estado — complementa Jeiselaure.
O que diz a prefeitura de Viamão
"A Prefeitura de Viamão, por meio da Secretaria de Saúde, informa que o alvará emitido para aquele endereço se referia a um estabelecimento já fechado. Durante o trabalho de fiscalização de rotina, no mês de setembro, fiscais da Secretaria detectaram a reabertura do estabelecimento com novos proprietários e notificaram os responsáveis para comparecerem no setor de Vigilância Sanitária. Os proprietários estiveram em 27/9, tiraram as dúvidas e tinham prazo para alteração das documentações de 30 dias. A Secretaria ressalta que nenhuma denúncia foi registrada nos canais de atendimento oficiais. Todos os pacientes já foram retirados do local, sendo alocados em outras instituições ou em casa de familiares."