A Justiça de São Paulo condenou Alicia Dudy Muller Veiga, acusada de desviar R$ 927 mil da formatura de estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a cinco anos de prisão pelo crime de estelionato, que poderão ser cumpridos em regime semiaberto.
Além da pena de reclusão, a sentença também determinou que Alícia pague às vítimas uma indenização correspondente ao mesmo valor do prejuízo causado por ela. A defesa foi procurada para comentar sobre a condenação, mas não retornou aos contatos da reportagem até a publicação deste texto.
O juiz Eduardo Balbone Costa, da 7ª Vara Criminal da Capital, que assina a decisão, diz que a então estudante de medicina da USP se prevaleceu da sua condição de presidente da comissão de formatura "para engendrar um plano" para apossar o dinheiro arrecadado ao longo de meses "a fim de obter lucro para si com a aplicação especulativa daquele capital".
O juiz afirma ainda que, ao desviar quase R$ 1 milhão que seriam destinados à festa de formatura, Alicia "traiu a confiança de seus pares", e criticou a postura da jovem por praticar o estelionato contra pessoas que ela conhecia e que haviam depositado, nela, a responsabilidade de ser a presidente da comissão de formatura.
De acordo com os autos, Alicia se aproveitou dessa posição de estar à frente da organização da festa para pedir à empresa responsável pelo evento que os pagamentos dos estudantes fossem transferidos para uma conta bancária da sua titularidade.
— A ré se prevaleceu de sua condição de presidente da comissão de formatura para engendrar um plano destinado a se apossar do produto arrecadado ao longo de meses, com a contribuição de dezenas de colegas, a fim de obter lucro para si com a aplicação especulativa daquele capital — disse o juiz.
— Traiu a confiança de seus pares, desviando recursos que pertenciam aos colegas de turma (o que revela maior opróbio do que a prática de estelionato contra vítima a quem não se conhece), quando as vítimas não atuavam movidas pela própria cupidez — completou o magistrado.
Relembre o caso
O caso veio à tona no começo de 2023. As investigações apontaram que a então estudante usava o dinheiro em proveito próprio para a compra de celular, relógio, aluguel de carros e gastos com aluguel de apartamento. A polícia percebeu a melhora do padrão de vida da jovem em pouco tempo.
A peça, assinada na época pelo promotor Fabiano Pavan Severiano, afirma que a jovem teria praticado estelionato por oito vezes e tentado em uma nona oportunidade, que não chegou a ser concretizada.
A quantidade de crimes praticados pela jovem se refere ao número de ocasiões em que ela teria pedido à empresa contratada para organizar a festa para transferir o montante da conta bancária da comissão para a sua particular.
Os repasses teriam começado em novembro de 2021 e se estendido ao longo do ano passado em outras sete ocasiões. Os oito pedidos totalizaram a transferência de R$ 927.765,33 para as contas de Alicia.
Ela teria tentado uma nova transferência em janeiro do ano passado, mas a empresa, já ciente da situação por colegas da turma, não efetuou o que seria o nono repasse.
Na ocasião, o advogado Sergio Ricardo Stocco Giolo, responsável pela defesa de Alicia, disse que desconhecia a "veracidade das alegações" do Ministério Público.
Em janeiro de 2023, Alicia admitiu aos colegas de turma ter perdido o dinheiro arrecadado pela comissão. Primeiro, disse que tinha investido o dinheiro e sido vítima de um golpe praticado por uma empresa de investimentos.
Dias depois, após o episódio tornar-se público e os colegas registrarem boletim de ocorrência, ela admitiu, em depoimento à Polícia Civil, que usou os valores acumulados no fundo da formatura para gastos pessoais e apostas em casas lotéricas para tentar, sem sucesso, reaver o dinheiro perdido.
Ré em outro caso
Ela chegou a ser alvo de outro inquérito, de julho de 2022, por suspeita de lavagem de dinheiro e estelionato após ter dado um suposto golpe na lotérica em que fazia os jogos. Ela teria gasto mais de R$ 400 mil em apostas no período, mas, na última data em que tentou fazer um jogo, teria deixado de pagar R$ 192 mil ao estabelecimento.