A Polícia Civil de São Paulo apreendeu nesta terça-feira (24) um carro, aparelhos eletrônicos, documentos e anotações com informações sobre apostas na residência da estudante de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Alicia Dudy Muller, 25 anos. Ela é suspeita de ter desviado R$ 927 mil que seriam usados para pagar a festa de formatura de 130 estudantes da sua turma de graduação.
O recolhimento dos pertences da jovem é resultado de uma operação de busca e apreensão feita no apartamento de Alícia, na Vila Mariana, zona sul da cidade. A ação foi coordenada pelo 16ª Distrito Policial (DP) de São Paulo, Vila Clementino, que investiga o caso.
Nela, foram recolhidos um veículo modelo Volkswagen Nivus, que Alicia alugava desde março de 2022 pelo valor mensal de R$ 2 mil; um tablet avaliado em R$ 6 mil, documentos, um notebook, cadernos com anotações sobre apostas em lotéricas e dois aparelhos celulares. De acordo com a delegada Zuleika Gonzalez, do 16° Distrito Policial (DP) da capital, na Vila Clementino, os objetos apreendidos poderão indicar se Alicia agia sozinha ou com mais pessoas.
— Com a análise desses dados, podemos saber com quem ela (Alícia) se comunicava e se possivelmente mais alguma pessoa sabia sobre os fatos. Mas até onde apuramos não há informações de participação de outros envolvidos. Esses dados (dos celulares de Alícia) poderão elucidar isso — afirmou.
A estudante de Medicina está sendo investigada por apropriação indébita, crime que pode resultar em 4 anos de prisão. Na última quinta- feira (19) ela admitiu à polícia ter desviado todo o dinheiro do fundo da formatura e usado a quantia para gastos pessoais e apostas em casas lotéricas. Os bens apreendidos apontam também que Alícia melhorou rapidamente o seu padrão de vida nos últimos anos.
— Pelo apartamento (aluguel no valor de R$ 3,6 mil), pelo mobiliário da casa, pelos veículos e modelo dos celulares, há evidências disso (melhora do poder aquisitivo).
Por meio da quebra de sigilo bancário, os delegados apuraram que a estudante não tem mais dinheiro no banco. A polícia também aguarda outras informações bancárias para saber se há outras contas em nome de Alícia. Os aluguéis do carro, apartamento e um dos celulares, segundo a delegada, não estão atrasados.
Além da quebra de sigilo bancário, a polícia pediu bloqueio de bens da indiciada.
— Se tiver valores em ações, por exemplo, serão bloqueados — afirmou a delegada.
Também nesta terça, uma colega de Alícia foi ouvida pela polícia e afirmou que não suspeitava da estudante. O depoimento foi considerado "coerente" com o que as investigações apontam, disse a delegada.
— Foi relatado que a Alícia é uma menina extremamente inteligente e muito reservada, que não compartilhava sobre a vida com ninguém.
Segundo Zukeika, a colega de Alícia ficou sabendo que a presidente da Comissão chegou a realizar uma aposta, mas que depois não fez mais nenhum comentário sobre o assunto.
— O próximo passo (da investigação) vai depender do que for analisado nesse material apreendido — disse a delegada.
A polícia deverá ouvir a nova e atual presidente da comissão de formatura na próxima sexta-feira para colher mais informações.
Acesso ao dinheiro
A estudante conseguiu ter acesso ao dinheiro por meio de transferências bancárias feitas pela Ás Formaturas, contratada pela comissão para ser responsável pela organização da festa. Alícia alegava que a organização não administrava bem os valores, o que a levou a ficar em posse do montante.
O fácil acesso ao fundo também está sendo investigado pela polícia. Em depoimento dado para o Procon nesta segunda, representantes da Ás afirmaram que a transferência foi acertada por meio de um grupo de WhatsApp, apenas com os 20 membros da comissão de formatura. A empresa se prontificou a fazer a festa e bancar os quase R$ 1 milhão desviados.
De acordo com o Procon, o contrato da Ás Formaturas com a comissão dos futuros médicos era frágil e "informal", o que pode ter facilitado a concretização do possível golpe. Pelo Código de Defesa do Consumidor, a Ás também deve ser responsabilizada pelo caso, "independente de dolo ou culpa", segundo o órgão de defesa.
Alícia também está sendo investigada pela polícia de São Bernardo, da região metropolitana de São Paulo, pelos crimes de lavagem de dinheiro e estelionato. Ela é suspeita de não pagar por apostas milionárias feitas em uma casa lotérica da zona sul da capital.