Procurado desde 2019, Diogo Henrique Martins, 36 anos, é apontado como líder de uma das maiores facções do Rio Grande do Sul, e um dos principais foragidos do Estado. Além de ser investigado em casos de tráfico de drogas e homicídios, ele também teria envolvimento em casos de ameaças e represálias a empresários gaúchos, conforme a Polícia Civil. O homem foi localizado e preso preventivamente na cidade de São Paulo, na última sexta-feira (19), após cerca de nove meses de investigação.
Martins foi preso em um apartamento de alto padrão no bairro Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, na sexta. O trabalho foi desempenhado pela Delegacia de Capturas, que pertence ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). A operação recebeu o nome de Dívida Ativa.
A defesa do homem, feita pelo advogado Daniel Hartz Anacleto, se manifestou por meio de nota afirmando que acredita que a Justiça irá "reconhecer a insuficiência probatória acerca da suposta atuação" de Martins nos fatos delituosos. Confira o texto completo abaixo.
Para a Polícia Civil, "DG" seria figura central nos casos em que empresários gaúchos foram ameaçados e sofreram represálias.
Denúncias do tipo passaram a se intensificar desde o início do ano passado, envolvendo empresários da região do Vale do Sinos e do Vale do Paranhana. Segundo o relato, criminosos estariam ameaçando e exigindo dinheiro para que fazer a "segurança" das vítimas. Quem negasse fazer pagamentos ao grupo, acabava sofrendo retaliações, como depredações em suas propriedades. Em alguns casos, o grupo criminoso chegou a enviar vídeos de depredações feitas, como aviso para demais empresários, segundo a apuração.
A Polícia Civil não divulgou quantos casos foram registrados e em que período, mas afirma que essas extorsões eram ordenadas por DG, apontado como liderança de uma facção que nasceu no Vale do Sinos. O homem teria atuação especialmente nas regiões do Vale do Paranhana e da Serra, e envolvimento também em homicídios e distribuição de drogas.
Líderes aliados
DG também é apontado pela polícia como principal aliado de Marizan de Freitas, 35 anos, que também seria um dos líderes da mesma facção.
Marizan também foi capturado em São Paulo, em julho, após ter fugido de prisão domiciliar humanitária, benefício que recebeu sob alegação de problemas de saúde. Ele tem um total de 38 anos de condenações na Justiça.
Durante essa fuga de Marizan, DG teria dado apoio. Para a polícia, ele foi o responsável por auxiliar Marizan na cidade de São Paulo: teria fornecido residências e veículos para que o aliado ficasse algum tempo na capital paulista.
Quando Marizan foi preso, DG teria deixado SP e se deslocado entre outros Estados, como Góias, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, segundo a investigação.
No entanto, ele retornou a capital paulista no começo deste mês. Ao tomar conhecimento da informação, uma equipe de cinco policiais embarcou para SP na terça-feira (16), e passou a fazer diligências atrás do homem.
Aluguel de R$ 30 mil mensais
Na cidade paulista, as equipes localizaram o condomínio do foragido. Após dois dias de campana, policiais tiveram a confirmação visual do homem, dentro do apartamento, e o prenderam. Nesse momento, ele estava sozinho. Nenhum objeto ilícito foi encontrado no local. Após a prisão, uma escolta foi organizada e ele foi conduzido imediatamente ao RS.
Segundo a polícia, o apartamento fica em um condomínio de alto padrão, no bairro Pinheiros, zona oeste de SP — mesma região em que Marizan foi preso.
O aluguel do local onde DG estava morando custa cerca R$ 30 mil ao mês, afirma a polícia. Ele também era visto dirigindo um veículo Range Rover, modelo Velar, avaliado em aproximadamente R$ 500 mil, conforme as equipes.
Para evitar ser pego, ele estaria usando um nome falso, se identificando como Júlio César Vieira. Segundo informações, evitava sair de casa e raramente era visto circulando pelo condomínio.
Ficha criminal
DG estava foragido desde 2019. Conforme a Polícia Civil, ele possuía ao menos três mandados de prisão em aberto, pela prática de diferentes crimes, como porte de arma de uso restrito, extorsão e tráfico de drogas.
O homem teria se inserido no mundo do crime em 2011, e desde então acumula 12 indiciamentos, conforme a polícia. Os casos abrangem crime de tráfico de drogas, extorsão, homicídio, receptação e roubo com morte.
Para a polícia, o foragido também é suspeito de ser o mandante do homicídio de Kevin Alcides, 18 anos, ocorrido em outubro de 2021 na cidade de Taquara.
Contraponto
O advogado Daniel Hartz Anacleto, que atende Martins, se manifestou por meio de nota. Confira o texto na íntegra:
"Embora haja inquéritos e ações penais em tramitação em face de Diogo Henrique Martins, inexiste sentença condenatória com trânsito em julgado em seu desfavor.
Dessa forma, Diogo é considerado inocente de todos fatos que lhe são atribuídos pelos órgãos de persecução penal, pois assim o garante a Constituição Federal.
Por fim, a defesa técnica de Diogo acredita que as decisões definitivas de todos os processos serão no sentido de reconhecer a insuficiência probatória acerca da suposta atuação de Diogo nos fatos delituosos."