A investigação que apura o uso de um mercado, que funciona legalmente em São Leopoldo, como fachada para lavagem de dinheiro segue em andamento após a prisão do dono do local, no último dia 22, durante operação da Polícia Civil. Nesta semana, em uma nova fase do trabalho, equipes de São Paulo interrogaram três pessoas que teriam recebido dinheiro enviado pela conta jurídica do estabelecimento. Os valores que entravam na conta do comércio eram obtidos junto ao tráfico de drogas, segundo a investigação, mesclando dinheiro sujo para dar aparência lícita a ele. Outros suspeitos do RS também são investigados.
A polícia não divulgou o nome do dono do mercado, que foi preso na semana passada, mas a reportagem apurou que se trata de Sérgio Pedro Corrêa, 40 anos. A defesa dele se manifestou por meio de nota (leia abaixo).
O homem foi preso no dia 22, em sua casa em São Leopoldo, durante a operação. Na residência, durante cumprimento de mandados de busca e apreensão, foram localizadas duas armas furtadas e quatro de calibre restrito, todas ilegais, além de calibres variados. A prisão em flagrante foi convertida em preventiva, por posse ilegal de armas de calibre restrito e receptação de armas furtadas. Ele segue detido no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp).
A operação na semana passada ocorreu após quase dois anos de investigação, pelas equipes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Leopoldo.
À frente do trabalho, o delegado Ayrton Figueiredo Martins Júnior afirma que desde 2018 os envolvidos no esquema chegaram a movimentar mais de R$ 473 milhões na conta da empresa, entre entradas e saídas de repasses.
Oitivas em São Paulo
Para interrogar suspeitos em São Paulo, as equipes da Draco solicitaram apoio de autoridades do outro Estado. Foram ouvidas três pessoas, todas investigadas por lavagem de dinheiro, sendo que uma delas está presa. Todos os investigados ficaram em silêncio. Também foram cumpridos mandados de busca em cinco residências. O trabalho em SP ocorreu em Ribeirão Preto, Matão e Guatapará.
— São indivíduos envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro. Verificamos que eles receberam valores depositados do mercado, em suas contas. Eles também tinham ligação e recebiam repasses de outros investigados aqui do RS, de Novo Hamburgo e Uruguaiana, também ligados a lavagem de dinheiro.
Outro grupo de pessoas do RS também é investigado. Entre os indivíduos, está a companheira do dono do mercado, que também estava na casa durante a prisão dele. Ela é considerada uma das principais investigadas porque também seria responsável pelo mercado.
As equipes também aguardam laudos periciais do material extraído de computadores do mercado, para avançar na investigação.
Contraponto
A advogada de Sérgio Pedro Corrêa, Maristela Celeste de Araújo, se manifestou por meio de nota:
"A defesa, até o momento, não teve acesso à íntegra da investigação. De modo que entende ser prematuro qualquer tipo de juízo de valor definitivo sobre as acusações que estão sendo imputados a Sérgio. Até porque, vale lembrar, todos vivemos num Estado Democrático de Direito, em que vigora o Princípio da Presunção de Inocência, ou seja, o investigado é inocente até que se prove o contrário e sobrevenha uma sentença penal condenatória transitada em julgado, oriunda de um processo penal em que haja o efetivo direito ao contraditório e à ampla defesa."