Aos 65 anos, um morador de São Sepé, na Região Central, viu sua conta ser limpa em poucos minutos. Após convencerem o mecânico a baixar um aplicativo de celular, os criminosos retiraram os R$ 38,8 mil que ele tinha recebido após a venda de um veículo. Na última sexta-feira (26), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) emitiu alerta para o chamado golpe da mão fantasma ou do acesso remoto.
— Levaram quantos anos de serviço meu? É uma coisa horrível — lamenta o mecânico, que preferiu não ser identificado na reportagem.
Foi por telefone que os criminosos fizeram o primeiro contato. Fingindo serem de uma central do banco onde ele possui conta afirmaram que alguém estava tentando realizar uma compra em seu nome. Essa é só uma das formas de abordagens usada pelos estelionatários. Por vezes, dizem que a conta foi invadida ou clonada, e sempre afirmam que existem movimentações suspeitas.
— Eles forjam uma central de atendimento, dos mesmos moldes de um atendimento bancário. Inclusive o número é igual ou parecido com o da central de atendimento do próprio banco — alerta o delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais.
Durante a ligação, pediram para que ele telefonasse para o número 0800 que consta atrás do cartão dele. Foi isso que o morador fez. Mas não sabia que os estelionatários estavam segurando a linha. Quando fez a ligação novamente, pensou que estava sendo atendido pelo banco, mas do outro lado da linha ainda estavam os golpistas.
Depois de ter sido convencido que a segurança estava em risco, ainda por telefone, o mecânico foi orientado pelos bandidos a baixar um aplicativo (Any Desk), alegando que seria a forma de proteger a conta. E foi isso que ele fez. O que ele não sabia é que esse mesmo aplicativo permitiria que os golpistas acessassem seu telefone de forma remota.
— Esses aplicativos originalmente servem para fazer a manutenção de equipamentos, por exemplo, por acesso remoto. Só que os criminosos descobriram essa fragilidade e conseguem ter acesso aos celulares também. Como eles instalaram um espião, um aplicativo de acesso remoto, eles conseguem verificar tudo que tem dentro, anotações, fotos. Como se tivessem acesso ao aparelho de forma integral — explica o delegado Anicet.
Os estelionatários ainda orientaram o mecânico a deixar o celular de lado, enquanto eles concluíam a instalação da falsa proteção. Somente ao final do expediente é que ele se deu conta que havia algo errado, quando percebeu que os criminosos tinham restaurado as configurações originais do telefone (resetado).
— Quando fui pegar o telefone, não tinha mais nada — recorda.
O mecânico seguiu até a agência bancária, onde por um extrato descobriu que tinham sido feitos dois Pix da conta dele nos valores de R$ 36 mil e R$ 2,8 mil. Os criminosos retiraram todo o valor que ele havia recebido naquele mesmo dia, com a venda de uma S10, e o que já estava na conta. Não restou nada.
— Vendi pensando em comprar uma nova. Levaram tudo. Depois disso, quando recebi de novo um dinheiro, eles me ligaram mais uma vez. Mas aí eu disse que não fazia nada por telefone. Já sabia — recorda o mecânico, que registrou o estelionato na Polícia Civil.
“Jamais instale esses apps”, alerta delegado
A principal dica, segundo o delegado Anicet, é desconfiar sempre desse tipo de abordagem, desligar o telefone e fazer contato diretamente com o banco, de preferência de outro aparelho, para evitar que os estelionatários ainda estejam na linha.
— A orientação é jamais instalar nenhum tipo de aplicativo solicitado por ligação telefônica. Se for vítima, registre a ocorrência e faça prints de todas as conversas, reúna todas as informações que tiver, do telefone, das contas bancárias para onde foram efetuadas as transferências, a hora e data do fato — afirma.
A investigação desses fatos, segundo a polícia, é morosa, pois depende de série de medidas, como quebra de sigilo bancário, e muitas vezes não é possível recuperar os valores que são retirados das vítimas. Os estelionatários utilizam laranjas que recebem o dinheiro em nome dos golpistas.
O que diz a Febraban
A Febraban fez um alerta onde esclarece que os aplicativos dos bancos contam com o máximo de segurança em todas as suas etapas, desde o seu desenvolvimento até a sua utilização e afirma que não há registro de violação da segurança dos aplicativos. Além disso, para que os aplicativos bancários sejam utilizados, há a obrigatoriedade do uso da senha pessoal do cliente.
— O banco nunca liga para o cliente pedindo para que ele instale nenhum tipo de aplicativo em seu celular. Também nunca liga pedindo senha nem o número do cartão ou ainda para que o cliente faça uma transferência ou qualquer tipo de pagamento para supostamente regularizar um problema na conta — afirma Adriano Volpini, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Febraban.
Como funciona o golpe
- O fraudador entra em contato com a vítima por telefone se passando por um falso funcionário do banco. Usa várias abordagens para enganar o cliente: informa que a conta foi invadida, clonada, que há movimentações suspeitas, entre outras artimanhas.
- O criminoso diz que vai enviar um link para a instalação de um aplicativo que irá solucionar o problema. Se o cliente instalar o aplicativo, o criminoso terá acesso a todos os dados que estão no celular.
- Depois disso, o golpista pode tanto usar a senha fornecida pela própria vítima durante a ligação, pedir para que a pessoa faça o login no aplicativo ou mesmo localizar alguma senha no aparelho, já que alguns clientes costumam salvar em aplicativos que guardam anotações.
Após, ele afirma que fará a proteção do telefone e passa a utilizar o aplicativo bancário para fazer transferências para outras contas. Quando a vítima se dá conta, o dinheiro já foi pulverizado para outras contas.
DICAS
- Se receber esse tipo de contato por telefone, desconfie na hora.
- Os bancos não realizam esse tipo de contato, solicitando aos clientes para baixarem aplicativos
- Desligue o telefone e entre em contato com o banco por meio dos canais oficiais e de um outro telefone
- Caso seja vítima, entre em contato com seu banco imediatamente e registre o fato na Polícia Civil. É possível fazer isso diretamente em uma delegacia ou pela Delegacia Online
Fonte: Polícia Civil e Febraban