Abril foi o mês que menos teve registros de casos de estelionato no Rio Grande do Sul neste ano. O número, ainda alto, serve de alerta: com total de 6.129 no período, são em média 204 casos por dia. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o índice representa queda de 25%: foram 8.185 registros em 2021, cerca de 272 a cada 24 horas.
No acumulado de janeiro a abril deste ano, foram 28.018 casos em que criminosos aplicaram golpes no Estado. Na comparação com os quatro primeiros meses do ano passado, também há queda: foram 30.237 registros no período em 2021, uma baixa de 7%.
Os dados são divulgados mensalmente pela Secretaria da Segurança Pública do RS, que apresenta os indicadores de criminalidade.
De acordo com o delegado André Anicet, responsável pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), a queda ocorre em razão de um conjunto de fatores.
Entre eles, Anicet cita a maior conscientização da população, que ocorre de maneira gradual. Como muitos golpes se repetem, as pessoas conseguem identificar mais facilmente os riscos quando eles surgem. O abrandamento da pandemia também pode ter contribuído para os números, segundo o delegado.
— Como a pandemia está em reta final, as pessoas estão ficando menos tempo em casa, voltaram as suas atividades, vivendo quase que normalmente. Não precisam mais fazer tudo pela internet, o que também contribui para a redução dos números. Há também a subnotificação, que não temos como estimar de quanto é. Infelizmente, os golpes se tornaram ainda mais frequentes na pandemia, de diferentes tipos, e muitas pessoas acabam por não fazer o registro junto a polícia, o que não é o ideal — diz Anicet, ressaltando que todas as ocorrências devem ser registradas, para fins de investigação e estatística.
De acordo com o delegado, um dos golpes mais populares nos últimos meses é o de roubo de perfis nas redes sociais, especialmente no Instagram. Na ação, o criminoso invade a página de um usuário e faz postagens com itens que estariam para venda, como móveis, a preços atrativos. Quando algum contato demonstra interesse, acaba trocando mensagens, sem saber, com o próprio golpista, que envia um Pix para pagamento e assim consegue o dinheiro.
O vasto cardápio de tipos de golpes criados ao longo dos últimos anos fez com que o perfil das vítimas mudasse, diz o delegado: são pessoas de diferentes idades e em contextos variados, e a imagem do idoso que é vítima ficou para trás.
Anicet ressalta que os cuidados básicos - como desconfiar de itens com preços muito mais baixos do que o esperado, não passar dados pessoais para estranhos e não clicar nem repassar códigos recebidos pelo celular - ajudam prevenir dores de cabeça. Veja abaixo uma lista de outras dicas que podem auxiliar.
"É um dano emocional, não apenas financeiro", diz vítima
A tranquilidade que imaginou durante a aposentadoria foi ficando em um cenário distante para Alberto (nome fictício), 65 anos. Nos últimos anos, o idoso foi vítima de dois tipos de golpes, em diferentes momentos.
Em um deles, no ano passado, o aposentado queria quitar empréstimos feitos em bancos. Para solicitar o boleto para pagamento, entrou no site da instituição. Dias depois, recebeu o documento por e-mail e fez o pagamento. O boleto, no entanto, era falsificado.
— Era igual. Tinha nome do banco, todas as informações. Era absolutamente igual — recorda.
Em outro caso, no ano passado, ao analisar o extrato de uma conta, Alberto percebeu uma cobrança referente a um empréstimo de R$ 3 mil que afirma nunca ter contratado. Ele questionou o banco, mas afirma que não teve retorno satisfatório:
— Eles me responderam dizendo: "Aqui está a sua assinatura, o senhor contratou". Mas aquela não era a minha assinatura, era uma coisa até muito mal feita. E a conta para depósito não era a minha. Nisso, eu já tinha pago umas três parcelas. Como fazem valores muito baixos, muitas vezes a gente nem vê.
Segundo Alberto, o prejuízo total foi de mais de R$ 1o mil. O aposentado decidiu entrar na Justiça na tentativa de reaver os valores junto aos bancos. O processo segue em andamento.
— Quando você descobre que foi passado para trás, além do prejuízo financeiro, vem o dano emocional, na cabeça da gente. E além disso você sente que não tem o que fazer, porque já perdeu aquele dinheiro. Pode entrar na Justiça para tentar reparar, como é o meu caso, mas é lento, demora, não tem previsão de quando essa dor de cabeça vai terminar. A gente é aposentado, precisa pagar plano de saúde, eu tenho um filho que é especial. É um estresse muito grande — lamenta.
Conforme o advogado Fellipe Kaliszewski Mallmann, que atende o aposentado, o público da terceira idade fica mais vulnerável quando não possui rede de apoio, que auxilie os mais velhos a utilizar sites e redes sociais, por exemplo. Mas, segundo ele, mas mesmo o público mais novo vem sofrendo prejuízos. A procura de pessoas que querem entrar na Justiça para tentar reaver valores perdidos em golpes aumentou nos últimos anos, diz Mallmann. Atualmente, há 20 ações do tipo em aberto no escritório em que atua.
Segundo o advogado, em alguns casos, a Justiça vem responsabilizando instituições bancárias:
— No âmbito do direito civil, se o boleto for realmente muito semelhante ao do banco, a Justiça vem entendendo que há uma falha da instituição e tende a indenizar o cliente. Um boleto muito similar ao original, com número do banco e demais informações, representa uma falha de segurança, e a responsabilidade sobre esses dados é da instituição financeira - avalia.
Veja dicas para se proteger
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento a isso
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem está adquirindo o produto
- Não repasse códigos recebidos no celular, por exemplo. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando, por WhatsApp por exemplo, é ela mesma. Para isso, uma dica é telefonar para a pessoa
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais
- Durante a venda de item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias
Fonte: Polícia Civil do RS