No final do ano passado, moradores do bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, decidiram comunicar a polícia sobre uma atitude que julgaram suspeita. A informação de que um homem permanecia parado em uma rua, supostamente observando o movimento de um comércio, levou PMs do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atende a região, até o local. Na abordagem, um arma foi encontrada e o homem foi preso por porte ilegal de arma de fogo. Ele tinha antecedentes por assalto à mão armada.
A comunicação instantânea entre moradores do bairro e policiais do batalhão foi feita em um grupo de WhatsApp, ferramenta que vem ajudando no combate ao crime na Capital, segundo a Brigada Militar (BM). Só o 21º BPM possui ao menos 30 canais de conversa do tipo. Um levantamento feito por GZH mostra que, atualmente, existem pelo menos 145 grupos formados, que contam com integrantes de seis batalhões da Capital. Em 2020, quando a mesma apuração foi feita, os seis BPMs contabilizavam 150 grupos, indicando que a comunicação pelo aplicativo se manteve.
Conforme o comandante do 21º BPM, tenente-coronel Alexander Pereira Cardozo, o caso ocorrido na Restinga ilustra a agilidade que a plataforma proporciona e ajuda a explicar por que ela se consolidou como ferramenta de comunicação entre polícia e população.
— Provavelmente, naquele caso, um assalto ou alguma ação criminosa foram evitados. Esse é um dos pontos positivos: o morador não precisa esperar que o crime ocorra para comunicar. Esses avisos repassados possibilitam um bom trabalho preventivo, que é muito interessante e ajuda na sensação de segurança das pessoas. A matéria-prima do trabalho do nosso setor de inteligência, que é a atividade que dá norte para as operações, é justamente a informação — avalia o comandante.
Diferenças
De acordo com o coronel Fernando Gralha Nunes, à frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC), órgão ao qual os batalhões são subordinados, a Brigada Militar trabalha com a política de se manter próxima da comunidade, mas os grupos não são todos iguais: cada batalhão tem uma maneira de se relacionar com os membros e define como será feita essa comunicação.
Segundo Nunes, alguns grupos tem público mais restrito, com alguns moradores selecionados, para que o objetivo da conversa não fique soterrado em trocas de mensagens que não agregam — enviar recados desejando bom dia e publicar anúncios e manifestações políticas, por exemplo, são condutas proibidas (saiba mais abaixo). Por vezes, há grupos diferentes para cada público. No Centro, há um entre policiais e comerciantes de farmácias, conta o coronel. Há também conversas restritas a funcionários de hospitais, lojistas e até comunidade escolar. Entre os que mais participam, estão os que envolvem comerciantes.
— Cada unidade estabelece, junto a comunidade, a forma como são estruturadas essas conversas. É uma ferramenta muito importante, sem dúvida alguma. Há casos, por exemplo, em que conseguimos ligar uma sequência de roubos em estabelecimentos comerciais a um mesmo indivíduo. Isso porque os funcionários passaram a indicar as mesmas características do suspeito, o que ajudou na investigação posterior — explica Nunes.
Os grupos costumam ser administrados pelos próprios policiais, mas há casos em que lideranças comunitárias auxiliam nessa organização. Normalmente, são estabelecidos alguns critérios para entrar nessas conversas, com o objetivo de garantir a segurança e evitar que o grupo perca o foco. Em alguns casos, os moradores preenchem um formulário junto ao batalhão, e só aí podem ingressar no grupo. Em outros, os moradores devem ser indicados por vizinhos.
Em caso de bairros maiores, a região pode ser divida em dois grupos. É o caso do Santo Antônio, segundo o 19º BPM — esse batalhão contabiliza 12 canais em toda sua área de atuação. . Na região atendida, alguns tipos de ocorrências aparecem com mais frequência, explica o comandante, tenente-coronel Clodenildo Silva Bueno:
— Nós recebemos muitos relatos de pessoas suspeitas, que são as que costumam cometer os pequenos furtos, seja a pedestres ou em comércios. Com a retomada do movimento nas ruas, depois do isolamento causado pela pandemia, percebemos que aumentou também o número de relatos sobre perturbação de sossego, em razão de eventos e atividades.
Apesar da facilidade da comunicação pelo aplicativo, a Brigada Militar ressalta que a conversa pelo WhatsApp não substitui a comunicação pelo telefone 190, em que a denúncia é oficial.
— Apesar de o monitoramento nos grupos ser feito 24 horas, essa é uma ferramenta mais informal, que não pode substituir o canal para comunicação de emergência, o 190. Ali, a comunicação fica registrada e entra no sistema de despacho de patrulhas — ressalta o coronel Nunes.
Número de grupos por batalhões
1º BPM: 20
9º BPM: 26
11º BPM: 28
19º BPM: 12
20º BPM: 29
21º BPM: 30
Regras de etiqueta
O que é proibido nos grupos
- Mensagens e cards de bom dia, boa tarde e boa noite
- Manifestações políticas
- Envio de correntes e piadas
- Fazer propagandas comerciais
- Ofender participantes