Na história do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) do Rio Grande do Sul, ocorrências como a do incêndio do prédio da Secretaria da Segurança Pública (SSP) são praticamente inéditas. Em 14 de julho, a edificação localizada na entrada da Capital desabou em uma hora e meia de incêndio matando dois integrantes da tropa.
Com 30 anos de corporação completos em julho, o comandante-geral do CBM, coronel Cesar Bonfanti, não recorda de outro episódio da sua carreira com essas características, em que um imóvel dessa magnitude — o da SSP tinha nove andares _— tenha tombado dessa forma e tão rapidamente, vitimando dois colegas.
— Não lembro de nenhum fato em que desabou todo prédio. Temos episódios no Brasil, mas de prédios habitados. Mas não como aqui e em tão pouco tempo de incêndio. Isso é bem inédito e difícil de acontecer — afirma Bonfanti.
O fogo, que se iniciou por volta das 21h30min em uma sala da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) no quarto pavimento, rapidamente se espalhou. Guarnições da Região Metropolitana foram chamadas para dar apoio.
As 40 pessoas que trabalhavam no local conseguiram sair nos primeiros minutos do incêndio, mas a queda da estrutura tirou a vida de dois bombeiros — algo totalmente incomum em incêndios. Os corpos do tenente Deroci de Almeida da Costa e do sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós foram encontrados após sete dias de buscas. Na última quarta-feira (11), as viúvas dos dois militares receberam a Medalha do Mérito Farroupilha, principal condecoração da Assembleia Legislativa.
De acordo com Bonfanti, o último incêndio que vitimou bombeiro aconteceu em 7 de fevereiro de 2016, em Santa Vitória do Palmar, no sul do Estado. Na época, Jeferson Taveira Corrêa, 25 anos, morreu após ficar gravemente ferido ao combater as chamas em um depósito de documentos da prefeitura. O militar trabalhava para apagar o fogo no prédio quando caiu do telhado e acabou tendo queimaduras em 25% do corpo. Sofreu uma parada cardíaca na UTI do hospital e não resistiu.
— Não recordo de outros episódios de morte. Já tivemos bombeiros que se acidentaram e se lesionaram, tivemos muitas situações de resgates na água com morte, mas não de bombeiros. Agora, de situação de combate a incêndio, o da SSP foi o maior que eu tenho conhecimento em questões materiais, em termos de proporções, prédio alto e praticamente todo prédio pegou fogo — afirma o comandante-geral.
Um inquérito policial-militar (IPM) foi aberto para apurar as duas mortes e está em fase inicial de depoimentos. Paralelamente a isso, os bombeiros que trabalharam na noite do dia 14, que atuaram nas buscas e localizaram os corpos e a equipe mais próxima do tenente Deroci e do sargento Munhós estão recebendo atendimento psicológico.
— Estamos tendo esse cuidado com as pessoas para entender o momento e compreender a situação que não se espera que aconteça, mas que faz parte dos riscos da profissão. Nosso pessoal está dando andamento na vida e no trabalho, mas são coisas que infelizmente podem acontecer a qualquer um de nós que se expõe numa ocorrência dessas — diz Bonfanti.