Há três anos, a divulgação pela internet de um vídeo com imagens chocantes revelou a execução de uma jovem em Porto Alegre. Com pés e mãos amarradas, sem esboçar reação, ela se deitou em uma cova, recém-aberta em meio a um matagal, pouco antes de ser atingida por dois tiros na cabeça. Dias depois, com a localização do corpo, veio a confirmação de que se tratava de Paola Avaly Correa, 18 anos, que estava desaparecida. Seis réus respondem presos pelo crime e devem ir a júri popular.
Paola, que morava no bairro Bom Jesus, foi executada na Vila Tamanca, no bairro Agronomia, na zona leste da Capital. A investigação apontou que a jovem teria sido morta a mando do ex-namorado, integrante de uma facção criminosa, que hoje é um dos réus no processo. Por telefone, em maio de 2018, Nathan Sirangelo, vulgo Satã, atualmente com 26 anos, teria ordenado o assassinato. Dias antes, em 9 de maio, a vítima havia ido até o Presídio Central para visitá-lo. Neste mesmo dia, romperam o relacionamento.
Mas o ápice, que teria resultado na morte da jovem, aconteceu pelas redes sociais. Na madrugada do domingo, dia 13 de maio, Paola postou uma mensagem no Facebook onde insinuava que estaria se relacionando com outra pessoa e que o namorado tinha sido traído. No mesmo dia, segundo a acusação, Sirangelo teria ordenado a Bruno Cardoso Oliveira, 26 anos, que arregimentasse pessoas para se vingar da jovem.
Conforme a denúncia apresentada pelo Ministério Público, a mando de Bruno, Vinicius Matheus da Silva, 24 anos, e Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 38, teriam capturado a vítima e levado até a casa de Thaís Cristina dos Santos, 24. Depois disso, a jovem teria sido levada para o matagal, na Vila Tamanca, onde foi aberta a cova por Paulo Henrique Silveira Merló, 39.
Por telefone, Paola teria dito ao ex-namorado que ele sabia que não havia sido traído e pedido para que ele desistisse da vingança. No fim da tarde, a jovem foi executada com dois disparos na cabeça. A acusação aponta Vinicius como o autor dos tiros. O corpo de Paola foi localizado quatro dias depois, em 17 de maio. A família, que já havia reconhecido a jovem por meio do vídeo divulgado pela internet, teve a confirmação do crime.
No fim do ano passado, a Justiça determinou que os seis devem ir a júri popular pelo crime. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado (feminicídio, motivo torpe, meio cruel ou que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Segundo o Tribunal de Justiça, as defesas apresentaram recurso da decisão e os autos seguiram para o Ministério Público apresentar as contrarrazões. Depois, retornam à Justiça para serem analisados. Ainda não há estimativa de quando deverá acontecer a sessão do júri.
O relacionamento
A relação, que resultou no desfecho trágico, teve início por meio das redes sociais. Segundo a investigação, aos 17 anos jovem conheceu Sirangelo e começou a namorar. Depois disso, teria passado a visitá-lo no Presídio Central e se afastado dos familiares. No fim de 2017, já com 18 anos, Paola anunciou que iria embora de casa.
A jovem havia estudado no Ensino Médio da Escola Estadual Oscar Pereira, no bairro Cascata, e trabalhava em uma rede de supermercados, que tem filial no bairro Menino Deus. Segundo a família, ela interrompeu os estudos e abandonou o emprego. Disse que iria morar com algumas amigas. Foram apenas sete meses entre o dia que Paola deixou a casa da mãe e a notícia do seu desaparecimento.
O sumiço da jovem aconteceu no mesmo dia em que ela fez postagem no Facebook, na qual dizia que seu ex-companheiro teria colocado fotografia dela em grupo de troca de mensagens atribuído a traficantes de uma das maiores facções do Estado. Na mensagem, ela também dizia que "apanhava horrores" dele.
Contraponto
O que diz a defesa dos réus Nathan Sirangelo, Bruno Cardoso Oliveira, Vinicius Matheus da Silva, Carlos Cleomir Rodrigues da Silva e Paulo Henrique Silveira Merlo
A Defesa Pública, que é responsável pelo atendimento dos cinco réus, encaminhou nota sobre o caso. Confira a íntegra:
“A Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul informa que está realizando a defesa dos réus visando a garantir os princípios da ampla defesa e do contraditório. Atualmente, o processo encontra-se na fase de recurso de pronúncia, que já foi apresentado pela instituição. Desse modo, cabe agora ao Ministério Público apresentar as contrarrazões desse recurso. A Defensoria Pública reforça que também possui interesse na celeridade do processo para que não haja excesso de prazo e para que seja dada a devida solução ao caso.”
O que diz a defesa da ré Thais Cristina dos Santos
GZH entrou em contato com a defesa da ré, mas não obteve retorno. Em depoimento na fase judicial, Thais optou por permanecer em silêncio.