A Polícia Civil concluiu o inquérito que investigava a morte de João Alberto de Freitas, assassinado em um supermercado da rede Carrefour, nesta sexta-feira (11). A delegada Roberta Bertoldo, responsável pelo caso, disse que as investigações seguiram ininterruptas desde o acontecimento, em 19 de novembro.
A delegada afirma que o racismo estrutural presente na sociedade brasileira naturaliza a violência contra pessoas negras.
— Aqui, ingressamos em um tema muito debatido durante todo esse período, que foi o racismo estrutural, que diz que esses atos estão arraigados na sociedade. Silvio Almeida (jurista e escritor, autor de O que é Racismo Estrutural?) refere muito bem isso: a sociedade naturaliza esse tipo de violência contra as pessoas negras. As pessoas tendem a encarar como normal os atos discriminatórios. Conseguimos perceber isso nas imagens. João Alberto nada fazia no supermercado que implicasse uma ação de segurança. Ali, naquele momento, não exercia nenhum inconveniente. Por que ele foi abordado? Porque existem essas situações de discriminação arraigadas por diversos fatores. Por isso, nós entendemos, sim, que há motivo torpe. Ele foi evidentemente tratado de forma desumana e degradante.
Foram decretadas a prisão preventiva de quatro pessoas, além da manutenção da prisão preventiva de mais dois envolvidos que estão detidos desde o dia da morte de João Alberto.
— Entendemos que a gravidade do que ocorreu nesse inquérito, aliado à comoção social que o fato gerou, não só no Brasil como no Exterior, autorizam essa representação e assim o fizemos. Por óbvio, ainda temos que verificar qual o posicionamento do Ministério Público e do Judiciário — comentou.
Depois da entrevista, o MP afirmou que irá analisar as provas colhidas e oferecerá denúncia dentro do prazo legal de cinco dias.
Roberta também argumentou que a manutenção da ordem pública é o principal fundamento para pedir a prisão preventiva de todos os envolvidos no caso.
Foram indiciados o ex-PM temporário Giovane Gaspar da Silva, o funcionário da empresa de segurança terceirizada contratada pelo Carrefour Magno Braz Borges, a agente de fiscalização que acompanhou toda a ação e não impediu as agressões Adriana Alves Dutra, o funcionário do Carrefour que viu toda a ação e chegou a dizer para João Alberto parar de fazer "cena" enquanto era agredido, Paulo Francisco da Silva, além de Rafael Rezende e Kleiton Silva Santos, funcionários do Carrefour que aparecem correndo em direção ao estacionamento antes da agressão.
A delegada esclarece que todos respondem pro homicídio triplamente qualificado, mesmo com a participação maior ou menor no ato. A delegada argumenta que a intimidação e o afastamento das pessoas que tentaram socorrer João Alberto por parte das pessoas leva a polícia a verificar os seis indiciados como coautores.
— Temos inúmeras condutas de auxílio material e auxílio moral. Eles estão ali corroborando moralmente e materialmente as ações que estão sendo feitas. Ninguém para tudo e pede para que se encerre aquela ação e para que se encerrem as agressões — declara Roberta.
Sobre a questão racial, Roberta Bertoldo afirma que mais de 40 pessoas foram inquiridas, vídeos foram analisados e, por isso, uma das qualificadoras foi motivo torpe, e não motivo fútil, porque apareceram comportamentos discriminatórios no meio do processo:
— Não havia nenhum tipo de necessidade da abordagem de João Alberto ali em frente aos caixas. Nesse momento, todos se perguntam: "E se fosse outra pessoa?". Sim, a situação seria diferente, sim. Nós não podemos deixar de admitir que existe discriminação no meio social, seja ela de que natureza for. Ali, João Alberto era visivelmente a pessoa economicamente inferiorizada, seja pelas suas vestes, pela forma que agia, ou pela cor de pele.