Estelionatários estão utilizando o nome de um leiloeiro gaúcho para comercializar veículos em sites falsos e ficar com dinheiro das vítimas. Os criminosos se passam por Richard de Andrade Vitt – profissional de Porto Alegre que tem matrícula apta para ser leiloeiro, mas que não está exercendo a função no momento – e dizem integrar o Grupo Sinal Leilões. A empresa, que indica ter sede na Capital, se apresenta como vendedora de veículos recuperados em financiamentos para todo território nacional. O nome usado pelos golpistas é muito semelhante a de uma empresa que realmente atua no ramo de leilões.
Ex-morador de Rio Grande do Sul, um consultor de mídia de 60 anos que prefere não se identificar conta que perdeu R$ 26 mil. Atualmente residindo em Itanhaém, no litoral paulista, o homem vinha pesquisando carros na internet até que, no dia 14 de julho, recebeu a ligação de uma suposta vendedora do Grupo Sinal Leilões oferecendo uma Tiggo 2019. Os veículos estão dispostos em um site falso: www.gruposinalleiloes.com.
— Na ligação, a vendedora fez um relato de que sabia informações da minha vida. Disse que trabalhava com leilão de carros apreendidos por falta de pagamento. O que me entusiasmou foi que, depois, uma pessoa com o nome do leiloeiro Richard de Andrade Vitt também me ligou. Foi uma conversa sem que desse para desconfiar. Me deu todas as indicações. Durante toda conversa, pedi várias informações e ele foi me passando tudo que eu pedia. Isso foi me deixando seguro — relata a vítima.
No dia seguinte, ele participou de um leilão online e arrematou o veículo. Na mesma data, fez o depósito do valor que previa a quantia paga pelo carro, pelo serviço do leiloeiro e para o transporte da Tiggo do Rio Grande do Sul até o litoral paulista. O valor deste veículo novo, segundo a tabela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), é de R$ 49,5 mil.
É a pior das sensações. De impotência, de ser driblado por alguém. É muito ruim. Não tive raiva, mas uma profunda indignação com minha incapacidade de perceber tudo isso porque é tudo muito convincente. Eles usam até o endereço de um depósito do Detran.
VÍTIMA
Consultor de mídia
Por ter experiências em outros leilões, o homem conta que também consultou sites de reclamação, para verificar se havia registros a respeito do Grupo Sinal Leilões, e solicitou um telefone fixo para seguir negociando. O endereço do grupo apontado no site é o mesmo de um centro de remoção e depósito (CRD) do Detran-RS, na zona norte da Capital. A promessa era de que, após o pagamento, o veículo chegaria em 48 horas.
Assim que depositou todo o valor, o consultor se deu conta de que havia caído em um golpe quando solicitou o envio do documento único de transferência (DUT) e não recebeu. Ligou diversas vezes e não foi mais atendido. No mesmo dia, registrou uma ocorrência na Delegacia de Polícia de Itanhaém. Além disso, acionou advogado para tentar buscar a localização da pessoa para a qual foi efetuado o depósito.
— É a pior das sensações. De impotência, de ser driblado por alguém. É muito ruim. Não tive raiva, mas uma profunda indignação com minha incapacidade de perceber tudo isso porque é tudo muito convincente. Eles usam até o endereço de um depósito do Detran — descreve.
O verdadeiro leiloeiro Richard de Andrade Vitt conta que recebeu ao menos dez contatos de pessoas que teriam caído no mesmo golpe – onde criminosos usam seu nome e dizem integrar o Grupo Sinal Leilões. Vitt registrou ocorrência na Delegacia Online em 27 de maio e encaminhou a GaúchaZH o Termo de Arrematação de duas vítimas que entraram em contato com ele. Um deles é de um homem da Serra, que deveria pagar R$ 21,3 mil por um Toytota Corolla 2014, também usando o nome de Vitt. O outro é de uma vítima do Espírito Santo que teria que depositar R$ 33,2 mil esperando receber uma Ford Ranger 2014.
— Estão cometendo crime de estelionato, utilizando inclusive uma assinatura totalmente diferente da minha assinatura real em um auto de arrematação falso. Além do boletim de ocorrência, já fiz reclamação em vários órgãos responsáveis, mas infelizmente o site permanece no ar. É um assunto sério que coloca em risco a credibilidade dos leiloeiros e a segurança que os leilões oferecem — afirma Vitt.
O delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos de Porto Alegre, explica que golpes envolvendo sites de leilões são muito comuns. A investigação cabe à polícia da cidade sede da agência bancária que recebeu o depósito.
Anicet alerta que é preciso cuidado com sites que não são hospedados no Brasil e terminam com o endereço .com – caso do site Grupo Sinal Leilões: www.gruposinalleiloes.com. De acordo com o delegado, essa página está hospedada no Texas (EUA). Também lembra que existe uma concessionária de veículos chamada Grupo Sinal, que é verdadeira, e tem seu site hospedado no brasil: www.gruposinal.com.br. A vítima de Itanhaém conta que já havia comprado outros três veículos nessa concessionária.
— Os criminosos criam páginas que parecem o mais autênticas possível e com certificados de segurança, que também são falsos. Só colocam o link. Existem inúmeros sites falsos de leilões hospedados fora do país e que demandam de cooperação jurídica internacional para retirá-los do ar — explica.
Anicet também orienta que qualquer bem antes de ter quitado precisa ser visualizado pessoalmente pelo cliente:
— Só de visualizar este site dá para ver que os carros não são de leilão, são veículos de loja, limpinhos, sem nenhum sinal de problema ou pequenas avarias. Outro ponto é que a empresa diz ser de Porto Alegre mas o site tem um selo de homologação do Tribunal de Justiça de São Paulo.
GaúchaZH entrou em contato com o Grupo Sinal, responsável por uma rede de concessionárias, e aguarda manifestação da empresa.
Contraponto
GaúchaZH telefonou cinco vezes nesta quarta-feira (22) para os telefones do Grupo Sinal Leilões disponíveis no site, também enviou mensagem por WhatsApp mas não obteve retorno nas tentativas de contato.
Cuidados para não cair no golpe do leilão
- Desconfie de sites que não são hospedados no Brasil e terminam com o endereço .com
- Da mesma forma, fique atento a sites de leilões que exibem fotos de carros novos, que aparentam estar na concessionária. Veículos vendidos em leilões normalmente não têm a mesma aparência de carros comercializados em lojas
- O site ter ícones de certificado de segurança não é garantia de que a empresa é segura. Os links podem ser copiados sem necessariamente haver o certificado real
- Visualize a mercadoria pessoalmente antes de comprar. Durante a pandemia, empresas sérias de leilão estão agendamento visitas com uso de máscara
- Tenha cuidado com sites patrocinados pelo Google que aparecem como as primeiras opções ao executar uma busca por leilões
- Procure referências da empresa em sites de reclamação
- Ao fechar a compra, não faça depósitos em contas bancárias que estão em nome de pessoa física