A reprodução do assassinato de Rafael Mateus Winques, 11 anos, que está sendo realizada nesta quinta-feira (18) em Planalto, no norte do Rio Grande do Sul, simulará desde o momento em que o menino estava no celular na noite em que foi morto, dentro da residência onde morava com a mãe e o irmão, até o corpo ser escondido em uma caixa de papelão na garagem de uma casa vizinha. Um dos objetivos da perícia é Alexandra Dougokenski, 33 anos, demonstrar como matou o filho, na versão dela.
A reconstituição iniciará com a simulação do momento em que Rafael estava no celular. A mãe afirma que o menino não queria largar o aparelho e nem dormir. Na sequência, passará ao ponto em que Alexandra alega ter retirado o telefone dele e medicado o menino com dois comprimidos de diazepam. A mulher deve mostrar depois o que aconteceu após o menino ingerir o remédio.
— Ela alega que durante a madrugada teria tocado a criança em cima da cama e teria verificado que as mãos estavam geladas e os lábios roxos, e que ela entendeu que a criança estaria morta. Então ela envolveu a criança numa corda em cima da cama, puxou pelo interior da residência, depois pelo lado de fora, até a varanda da casa ao lado, onde ela colocou o filho dentro da caixa de papelão, com aqueles retalhos (de tecidos). Tudo isso vamos ter que reproduzir agora, para ver se naquele ambiente orgânico, que é a residência da família, isso poderia de fato ocorrer — explica o delegado Joerberth Nunes, do Departamento de Polícia do Interior (DPI), que está em Planalto para acompanhar a perícia.
Essas cenas serão repetidas quantas vezes for necessário, para que sejam analisadas e registradas em imagens pelos peritos. Uma das dúvidas que a polícia pretende esclarecer com auxílio da reconstituição é porque Rafael tinha uma marca de estrangulamento no pescoço - havia uma corda junto ao corpo do menino. Embora o laudo ainda não tenha sido recebido, a perícia inicial já apontou a asfixia mecânica como causadora da morte, segundo o Instituto-Geral de Perícias (IGP) – o que contraria a versão da mãe.
— Ela diz que em nenhum momento houve o estrangulamento e que, na verdade, aquela marca que existe no pescoço da criança, aquele sulco, fora porque a corda estava nos braços, escorregou, veio para o pescoço, e ela continuou puxando. Nós temos aqui um boneco, com a estatura e peso do menino Rafael, e vamos verificar se isso é compatível com a realidade — afirma o delegado.
Por outro lado, o delegado revelou durante coletiva à imprensa no fim da tarde que a perícia toxicológica verificou a presença de resquícios de medicamento na urina do menino. Esse ponto é corrobora o relato de Alexandra, embora a polícia suspeite que o garoto possa ter sido dopado e depois estrangulado. Os policiais aguardam o laudo completo para saber se a quantidade do remédio seria suficiente para causar a morte da criança, como alega a mãe.
Participação de outra pessoa
A medida que a reconstituição for avançando, a polícia irá fazendo perguntas técnicas para ver se a cena é compatível com alguns laudos periciais já recebidos, como de algum hematoma presente no corpo da criança, por exemplo. Outro ponto que deve ser esclarecido é se o irmão de Rafael, um adolescente de 17 anos, não presenciou nada. A mãe alega que ele estava dormindo, mas a polícia diz que há contradições nos relatos dos dois.
— O fato se deu de madrugada, mas, pela forma como ocorreu, será que o outro filho, nada ouviu mesmo durante a noite? O que ele estava fazendo? Tudo isso é importante para dirimir essas dúvidas — disse Nunes.
O diretor do DPI afirmou ainda que a polícia acredita que a morte de Rafael tenha acontecido na noite do desaparecimento, conforme relatou a mãe. A hipótese de ele ter sido mantido com vida em outro local e morto depois está praticamente descartada.
Essa possibilidade chegou a ser analisada por conta do estado em que estava o corpo do menino, que, embora tenha ficado dez dias escondido em uma caixa, não exalava odor forte. O laudo da perícia que poderia apontar a data da morte, no entanto, não deve ser preciso e sim apontar um período aproximado. Questionado sobre a suspeita da polícia sobre a possível participação de outra pessoa no crime, o delegado afirmou que isso não foi descartado até o momento pela investigação.
— Se ela está omitindo alguns elementos, a nossa obrigação é saber o porquê. E certamente com a reprodução simulada vamos ter essas respostas — garantiu.
Após a realização da reconstituição, Alexandra será ouvida novamente pela polícia. O depoimento deve acontecer nesta sexta-feira ou no sábado, em Porto Alegre. A polícia pretende solicitar que a prisão temporária dela seja renovada por mais 30 dias, durante a investigação.