Há menos de um mês, Luís Fernando Rodrigues Dorneles começou a fazer corridas como motorista de aplicativo. Na segunda-feira à noite, após finalizar uma viagem pela Uber na Rua Fernão Dias, em Alvorada, foi assassinado. Aos 41 anos, a vítima também era motoboy e havia comprado o carro para transportar passageiros e completar a renda da família. Pai de três filhos, o condutor também viu no aplicativo a oportunidade de pagar o financiamento da casa própria onde morava, no bairro Mário Quintana, na Zona Norte de Porto Alegre.
De acordo com a Polícia Civil, dois criminosos anunciaram o assalto com a intenção de levar o Geely EC7, que estava com Dorneles havia pouco tempo.
A vítima tentou fugir quando foi atingida pelos disparos dos criminosos. O carro ainda colidiu no muro de uma residência.
O assassinato foi logo após Dorneles encerrar uma corrida. Conforme a investigação, o condutor pegou a passageira na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, na zona norte da Capital, e a deixou na rua onde foi assaltado, no município limítrofe. O delegado Luís Carlos Rollsing tem algumas características da dupla, mas admite dificuldade na investigação pela ausência de câmeras e testemunhas.
— A gente tem uma testemunha, que nos deu alguns dados, mas por enquanto ainda não temos a identificação dos autores — disse Rollsing.
Na tarde desta terça-feira (7), um dia após o assassinato, dezenas de colegas do condutor fizeram carreata com buzinaço pedindo justiça. A manifestação partiu da região do Porto Seco, na zona norte de Porto Alegre, até o cemitério São Jerônimo, em Alvorada, onde ocorreu o enterro da vítima. No trajeto, colegas de aplicativo recolheram dinheiro para ajudar a família a se manter.
O também motoboy e motorista de aplicativo Adilson Marques jogava futebol com Dorneles há cinco anos. Acompanhando a carreata de motocicleta, lamentou a perda do amigo.
– Ele desfalcou nosso time. Era nosso lateral direito. Não há palavras para descrevê-lo, a pessoa mais tri que conhecia.
Marques também brincou com as habilidades que o amigo gremista desenvolvia – ou tentava – em campo.
– Ele não era grande coisa, mas era esforçado. Queria que ele estivesse aqui escutando para a gente dar risada junto – completou.
Empresa se manifesta e presta solidariedade
Procurada, a Uber se manifestou por meio de nota informando que “lamenta profundamente que motoristas parceiros sofram com a violência e brutalidade que permeiam nossa sociedade. Nossos sentimentos estão com a família do motorista neste momento tão difícil. A empresa permanece à disposição das autoridades para apoiar as investigações, nos termos da lei.” A empresa ainda disse que “a Segurança é prioridade para a Uber e a empresa está sempre buscando aprimorar sua tecnologia para fazer da plataforma a mais segura possível de uma forma escalável. Em 2018, a Uber passou a adotar no Brasil o recurso de machine learning, que usa a tecnologia para bloquear viagens consideradas mais arriscadas e lançou uma ferramenta que reúne os recursos de segurança para motoristas parceiros, inclusive um botão para ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app.”