Nos últimos dias de fevereiro de 2008, um grupo de senhoras anglicanas, acompanhado de um professor de inglês, procurou a redação de ZH para denunciar um crime ocorrido no centro da Capital semanas antes.
A história parecia inspirada em alguma obra de Raymond Chandler: uma de suas amigas fora morta pelos vizinhos, beneficiários do seu testamento.
A primeira apuração indicou que o caso havia sido registrado inicialmente como um “encontro de cadáver”; trataria-se de uma morte natural.
No entanto, elas insistiam que a amiga havia sido assassinada, e o argumento mais forte era o fato de a vítima ter sido encontrada sem vida sobre a cama, onde teria feito sua última refeição – um lanche com café.
“Ela jamais comia na cama, não gostava de farelo pela casa”, me disse uma das senhoras. Ao insistir no caso, cheguei ao atestado de óbito, que apontava “asfixia mecânica por constrição cervical”. Tratava-se mesmo de homicídio: Ilza fora estrangulada.
Após o caso se tornar público por ZH, foi decretado o sigilo do inquérito. Ao final, investigações convergiram para um crime patrimonial. O trabalho policial chegou às mãos de Vanessa Pitrez. Em um inquérito sem retoques, a delegada indiciou o casal de vizinhos beneficiário da herança.
Outras três pessoas que trabalhavam no prédio foram indiciadas por estrangular Ilza e tentar eliminar evidências do crime. Entre as provas, estão as conversas pelo MSN entre marido e esposa e a perícia que revelou que o local do crime fora limpo ao ponto de as próprias digitais da vítima desaparecerem do seu apartamento. Onze anos depois, resta ao júri decidir.
*Francisco Amorim é ex-repórter de Zero Hora que cobriu o caso à época e doutor em Sociologia.