As defesas do PM e do ex-PM presos na madrugada desta terça-feira (12) negaram as acusações de que eles teriam atirado ou participado do crime que matou Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Um dos detidos é o policial militar reformado Ronnie Lessa, 48 anos, suspeito de ter cometido os disparos contra o carro em que estavam Marielle e Anderson. O segundo preso foi o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 46. Ele estaria conduzindo, segundo o Ministério Público, o carro quando os tiros foram disparados.
O advogado de Lessa afirmou que o suspeito nega de forma veemente que tenha cometido qualquer assassinato. Na porta da Delegacia de Homicídios, onde Lessa está detido, o advogado Fernando Santana disse que a defesa "vai negar de forma veemente sempre". Santana também declarou que não teve acesso ao inquérito.
— Isso é primordial, porque não tive acesso a nenhuma página sequer ainda a um inquérito que tem mais de 3.000 páginas, e é difícil eu poder falar alguma coisa nesse momento — afirmou.
Santana disse não saber se Lessa já chegou a conversar com investigadores nem se passará a madrugada na delegacia, como afirmou um agente na portaria. Disse que falou apenas por cinco minutos com seu cliente e aguardava a chegada do delegado responsável, que estava em uma entrevista coletiva à imprensa sobre o caso.
Ronnie Lessa foi preso em sua casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste. O local é o mesmo em que o presidente Jair Bolsonaro tem casa. Ao menos 34 imóveis ligados à investigação tiveram mandados de busca e apreensão expedidos.
Por volta das 11h, uma picape da Polícia Civil chegou à delegacia com diversas caixas de papelão retiradas da casa de um amigo do PM reformado Ronnie Lessa, no Méier (zona norte do Rio).
Um vídeo obtido pelo G1 mostra que dentro destas caixas havia armas desmontadas, inclusive fuzis, além de munição. Um homem que mora no local, identificado como Alexandre, chora, diz que conhece Lessa desde pequeno e fala que não sabia o que havia nas caixas.
De acordo com o jornal O Globo, Lessa entrou na lista de suspeitos após ser vítima de uma emboscada, em 28 de abril, 30dias depois do assassinato da vereadora. A suspeita seria que pessoas envolvidas no crime teriam tentado promover uma queima de arquivo.
Os investigadores também teriam identificado que o policial reformado teria feito pesquisas sobre a rotina de Marielle e sobre eventos que participaria semanas antes do crime.
Lessa chegou a ser homenageado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) com uma moção de louvor apresentada pelo deputado Pedro Fernandes Filho, avô de Pedro Fernandes Neto (PDT), atual secretário estadual de Educação.
Em 1998, ao propor a moção, o parlamentar afirmou que o policial era digno da homenagem por "honrar, permanentemente, com suas posturas, atitudes e desempenho profissional, a sua condição humana e de militar discreto mas eficaz".
Já a defesa do segundo suspeito preso, o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz –acusado de estar no carro no momento dos assassinatos–, também negou sua relação com o crime.
— Elcio é totalmente inocente. Ele não estava no local dos fatos, isso vai ser comprovado. Eu tenho certeza de que se trata de mais uma trapalhada da polícia judiciária — afirmou o advogado Luiz Carlos Azenha, em frente à delegacia.
— Nós tivemos inclusive pessoas que acusaram a própria polícia judiciária de ter problemas e teve uma intervenção da Polícia Federal nesse sentido — declarou ele, em referência a uma investigação paralela da PF que começou em novembro após denúncias de que a polícia fluminense estaria sendo paga para não concluir as investigações.
Questionado sobre a relação entre Queiroz e Lessa, o advogado afirmou que "só vai poder dar essas informações após o acesso completo ao inquérito policial". Ele também não respondeu por que seu cliente foi expulso da PM, disse apenas que ele estava pleiteando seu reingresso na corporação.
— Ele foi expulso como tem vários policiais militares que foram expulsos, inclusive hoje em dia o governador acabou com a corregedoria, a CGU, então essa pergunta deveria ser feita até ao governador — respondeu.
Suspeito de ser o motorista do carro usado no crime, Queiroz foi expulso da Polícia Militar por fazer segurança ilegal em uma casa de jogos de azar no Rio de Janeiro. Ele foi um dos 43 denunciados pela Operação Guilhotina, deflagrada em fevereiro de 2011 pela Polícia Federal.
A investigação revelou um esquema de corrupção policial que incluía a venda de informações sobre operações e de espólio de guerra do tráfico, além do serviço ilegal de vigilância.
De acordo com a denúncia do MP do Rio, Queiroz fazia parte um grupo de 13 pessoas que atuava como segurança em casas de jogos de azar no bairros de Bonsucesso, Barra do Guaratiba e Botafogo.
À época, ele estava lotado no 16º Batalhão da PM (Olaria). Em 2016, a Corregedoria Geral Unificada da Secretaria da Segurança Pública decidiu expulsar Élcio e pelo menos outros sete PMs da corporação.