O médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, prestou depoimento nesta quarta-feira (26) aos promotores da força-tarefa criada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), que investiga as acusações de crimes sexuais. As denúncias foram apresentadas por mulheres que afirmam que, ao buscar tratamento espiritual na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), sofreram abusos sexuais.
Os promotores de Justiça Luciano Miranda Meireles e Paulo Eduardo Penna Prado se fixaram em três dos casos que estão sendo apurados pelo MP goiano - segundo o qual já foram coletados 78 depoimentos formais de mulheres de todo o país que se apresentam como vítimas de abuso sexual do médium.
O advogado Alex Neder disse que João de Deus afirmou não se lembrar das mulheres que o acusaram de abuso sexual. Ainda de acordo com o defensor, o médium também negou ter cometido abusos contra mulheres que o procuravam para tratamento espiritual em Abadiânia. Ele respondeu perguntas dos promotores e da própria defesa.
Além disso, João de Deus reafirmou que os atendimentos "espirituais" que oferece ocorrem às vistas de muitas pessoas que frequentam a Casa Dom Inácio.
— Ele explicou pormenorizadamente aos promotores que as fotos dos locais em que, segundo as mulheres, teriam ocorrido o abuso, indicam locais abertos, onde sempre há muita gente esperando ser atendida ou o auxiliando — comentou o advogado, afirmando que, segundo a explicação do médium, as fotos exibidas pelos promotores são do salão da Casa Dom Inácio, que dá direto para o estacionamento.
— Ele garantiu aos promotores que, da forma como foi descrito, os fatos não ocorreram — acrescentou o advogado, revelando que, embora já venha acompanhando o caso há alguns dias, a convite do escritório do advogado criminalista Alberto Toron, só hoje teve oportunidade de conversar com o cliente de forma satisfatória.
João de Deus está detido em caráter preventivo no Núcleo de Custódio do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, nos arredores da capital goiana, desde o último dia 16. Alegando inocência, ele já recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar obter o direito de deixar a unidade prisional e cumprir prisão preventiva domiciliar, com o uso de tornozeleira. O recurso ao STF foi apresentado após o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negarem habeas corpus ao médium.
— Nossa maior preocupação é que ele tem 76 anos, tem problema de coração e, recentemente, tratou-se de um câncer. O local (Casa de Custódia) é inadequado para alguém de sua idade e que precisa de cuidados médicos e de uma dieta adequada. Por isso estamos pleiteando a soltura e a possibilidade dele responder aos processos em casa, se necessário, com tornozeleira — acrescentou Neder.
O médium deixou o complexo prisional cercado por forte esquema de segurança e chegou ao MP-GO por volta das 10 horas. Saiu cerca de duas horas depois e o teor de seu depoimento não foi divulgado.
Além do depoimento, os promotores que integram a força-tarefa do MP-GO ouviram mulheres que afirmam ser vítimas de João de Deus e também testemunhas. Até a última sexta-feira (21), a força-tarefa já contabilizava 596 contatos feitos por supostas vítimas por e-mail ou telefone. Destes, foram identificadas 255 possíveis vítimas, das quais 75 já haviam sido ouvidas formalmente até a mesma data. Segundo o MP-GO, 23 das 255 possíveis vítimas tinham entre 9 e 14 anos por ocasião dos fatos.
Entre as supostas vítimas identificadas, 39 são de Brasília e as outras de Goiás (21), do Rio Grande do Sul (20), Espírito Santo (11), Minas Gerais (15), Rio de Janeiro (7), Paraná (6), Santa Catarina (4), Mato Grosso (3), Mato Grosso do Sul (1), Maranhão (1), Pernambuco (1), Piauí (1) e Tocantins (1).
Entre as remetentes das mensagens recebidas pelo MP estadual há também mulheres que vivem no Exterior: nos Estados Unidos (4), Austrália (3), Alemanha (1), Bélgica (1), Bolívia (1) e Itália (1).
A esposa do médium João de Deus, Ana Keyla Teixeira, de 40 anos, deve prestar depoimento nesta quarta-feira (26) à Polícia Civil. Inicialmente, ela falaria na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), mas, segundo a assessoria da Polícia Civil de Goiás, o depoimento foi alterado por questões de logística. Ana Keyla será ouvida pela delegada Patrícia Meotti, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Goiânia.
João de Deus só deve voltar a prestar depoimento na Polícia Civil depois que novas testemunhas sejam ouvidas, além de outras diligências.