Reportagem exibida neste domingo (23) pelo Fantástico revelou a história de uma das vítimas de João de Deus. Em um diário, a mulher relata ter sido abusada 20 vezes pelo médium entre 2009 e 2010, durante os atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). Na época, ela tinha 20 anos e com medo não contou nada a ninguém, mas registrou os abusos em um caderno.
O diário, escrito em inglês e português, tem trechos em que ela conta momentos de angústia e tristeza. Em 16 de setembro de 2009, a vítima escreveu sobre a “vez que em ele foi mais longe”. “Ele ficava passando o pênis dele no meu ventre. Colocava no meio das minhas nádegas”, revelou.
Segundo ela, o médium a ameaçava para que não contasse nada para ninguém. Além disso, João de Deus dava presentes para as vítimas e chegou a prometer que pagaria a formatura da jovem. No diário, ela também registrou: "Ele me fez prometer que eu não emagreceria." Desesperada, a vítima pensou em suicídio.
— Eu reclamei: ô cara, você está me deixando doente. Eu estou ficando cada vez pior. E ele dizia: não, mas você é forte — afirma a vítima à reportagem do Fantástico.
O Ministério Público irá usar o diário como prova contra o médium. A força-tarefa montada para investigar os casos de abuso sexual já recebeu 255 relatos de mulheres que se disseram vítimas de João de Deus, 75 já foram ouvidas. Preso desde domingo passado por denúncias de abuso sexual, João de Deus também vai responder por posse ilegal de armas.
Chantagens
Também ouvida pelo Fantástica, a brasileira Greice Lima, que mora hoje em Chicago, nos Estados Unidos, disse que procurou João de Deus, em Abadiânia, após receber um diagnóstico equivocado de leucemia Ela conta que o primeiro abuso ocorreu em um hotel onde estava hospedada em junho de 2013:
— Ele forçou minha cabeça pra tocar no pênis dele, para que fizesse sexo oral. Eu chorava e cuspia nele.
Após o primeiro ataque, começaram as chantagens: "Ele falou: Você fica quieta, menina. A partir de hoje você não vai falar nada, você não vai embora. Se você falar para alguém, alguma coisa muito ruim vai acontecer com o seu filho”, contou Gleice.
Segundo ela, João de Deus costumava andar armado ou com homens armados. Gleice viveu dois anos em Abadiânia. Desde 2015, mora nos Estados Unidos.
Procurado pelo Fantástico, o advogado de João de Deus, Alberto Toron, afirmou que os dois casos citados na reportagem devem ser tratados em processo individualmente.