As polícias Civil, Militar e Federal estão convictas de que esbarraram em uma grande ação internacional de tráfico, cujo epicentro era tramado em Tramandaí, maior praia no Litoral Norte gaúcho. Em parte por acaso, em parte graças à dedicação de PMs, que desconfiaram do vaivém de carros de luxo e pessoas com sotaque forasteiro em uma mansão a um quarteirão do mar. A checagem resultou na prisão de seis homens e três mulheres.
As prisões foram feitas quinta-feira (10) pela BM. O que deu aos policiais certeza de terem desarticulado uma quadrilha é o currículo de alguns dos presos flagrados em tentativa de fuga. Quatro dos homens detidos têm antecedentes criminais, alguns deles espetaculares. Os outros dois são colombianos e até agora não se sabe o que faziam na companhia dos demais, mas há sérias desconfianças de que negociavam drogas. Três mulheres eram parceiras deles.
A corroborar a suspeita dos policiais estão os objetos apreendidos na casa. Entre eles, mais de 40 celulares, furadeiras e pés-de-cabra (instrumentos que costumam ser usados em arrombamentos), uma frota de veículos potentes e diversos documentos falsos.
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Os 40 celulares chamam a atenção porque, tudo indica, seriam usados e jogados fora, para driblar escutas. A tática é usada por cartéis de droga para evitar rastreamento policial – criminosos comuns costumam trocar apenas o chip. A presença de instrumentos usados em arrombamentos pode indicar tentativa de usar a frota de veículos para embutir drogas.
Após as prisões, a investigação é tocada em três frentes.
– Em Tramandaí o delegado Paulo Perez abriu um inquérito por corrupção, associação para o crime e falsidade ideológica (pelos documentos falsos do bando).
– O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), também da Polícia Civil, tenta verificar as conexões estaduais do grupo.
– A Polícia Federal verifica ramificações internacionais dos suspeitos.
Um dos maiores desafios dos policiais é descobrir o que dois colombianos, que se declaram empresários, faziam em companhia de três conhecidos criminosos gaúchos, todos com passagem por tráfico de drogas. Diego Cifuentes Sanches, 61 anos, e John Alexandre Trivera Rodrigues, 48, disseram se dedicar à importação de lingerie para o Brasil.
Os dois estrangeiros não têm antecedentes criminais em seu país – as autoridades colombianas afiançaram isso – e, por isso, libertados pela Justiça nesta terça-feira.
Eles são naturais de Pereira (município da região central da Colômbia). A suspeita dos policiais é de que os estrangeiros possam ser a fachada legal de um negócio ilegal (possivelmente tráfico de drogas), até porque estavam abrigados em uma casa com três traficantes conhecidos.
A cidade de Pereira era área sob influência criminal de Juan Carlos Abadia, chefão do Cartel do Valle del Norte (Colômbia), preso em São Paulo em 2007. Suspeito de ordenar mais de 100 homicídios em seu país e nos Estados Unidos, ele tinha propriedades em Porto Alegre e Guaíba. Foi extraditado para os EUA e virou colaborador da Justiça.
Quatro dos detidos têm antecedentes policiais e uma das mulheres foi presa em flagrante com diversos documentos falsos, nos quais a foto dela está aplicada sobre identidades diferentes. Todos continuam presos.
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Paulo Vieira de Mello, o Paulo Seco, 48 anos
O mais notório do bando, é um traficante natural de Passo Fundo, condenado três vezes por envolvimento no contrabando de cocaína por meio de aviões que lançavam a droga em lavouras. Ele já morou no Paraguai e no Uruguai, onde foi preso pela última vez, em 2010.
Desde o ano passado está em liberdade condicional e, segundo PMs, tentou agora comprar sua liberdade oferecendo R$ 1 milhão, recusado pelos policiais. Os PMs dizem que é dele o veículo onde foram apreendidos R$ 103 mil em espécie. Paulo Seco voltou agora ao regime fechado.
Marino Divaldo Pinto de Brum, 50 anos
A casa onde Paulo Seco se hospedava era alugada por Marino, que estava foragido da Justiça e com pena a cumprir até fevereiro de 2020. Aos PMs ele disse que tem atuado dentro da lei, importando calcinhas para vender. A afirmação provocou risos, diante dos antecedentes dele, que há oito anos foge das barreiras policiais. Natural de Uruguaiana, Marino tem quatro condenações que somam 22 anos e 11 meses de prisão. Entrou na cadeia pela primeira vez em 1998.
A última façanha dele foi o transporte de 130 quilos de cocaína, flagrado por policiais civis em julho de 2003. A droga estava escondida dentro de pneus do cavalinho de um caminhão que era rebocado por uma carreta na BR-285. A droga foi embarcada em Uruguaiana e seria levada para Goiás.
Marino estava em liberdade condicional e foi condenado a 12 anos de prisão. Não cumpriu a pena. Beneficiado pelo regime semiaberto, em novembro de 2009, Marino recebeu autorização para trabalho externo e nunca mais voltou, ficando quase oito anos como desaparecido. Até ressurgir na mansão em Tramandaí. Agora foi encarcerado em um presídio.
Josemar da Rosa Shorn, 32 anos
É outra figura tarimbada, encontrada pelos policiais na casa do Litoral. Virou conhecido no crime ainda adolescente, se envolveu em um homicídio em São Leopoldo. Ele ficou internado em abrigo até completar 20 anos. Mudou-se para o Litoral Norte para trabalhar como pedreiro e fazer manutenção de casas de veranistas. Em setembro de 2010, foi preso em flagrante após assalto a uma propriedade rural em Cidreira, no Litoral Norte.
Na companhia de outro homem, foi pego com uma moto roubada, além de capacete, jaqueta de couro e R$ 200. Pelo crime foi condenado a cinco anos e quatro meses de prisão. Em janeiro de 2012 saiu para trabalho externo e não voltou, sendo recapturado em julho de 2013. Estava em liberdade condicional desde julho de 2016, morando em Tramandaí. É investigado por outros possíveis roubos. O advogado pedirá sua libertação.
Adriano Osmar Schuch, 44 anos: é gaúcho com atuação na fronteira oeste. Consta que responde a processo judicial por falsificação de documentos. O advogado pedirá sua libertação.