A fuga de cinco detentos da carceragem do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Porto Alegre, na tarde de sábado (22), deixando um policial civil baleado em uma das pernas e um dos fugitivos também ferido a tiro em um dos joelhos, foi definida pelo sindicato dos agentes da Polícia Civil como "a tragédia anunciada".
– A carceragem não é o lugar ideal para mantermos os presos, mas diante da atual situação que enfrentamos em todas as delegacias, no sábado as nossas celas não estavam com uma lotação muito exagerada. Havia 14 presos para uma capacidade de 12 – diz o diretor de investigações do Deic, delegado Sander Cajal.
Segundo o delegado, normalmente a carceragem é monitorada por um sistema de vídeo, mas neste final de semana o equipamento havia sido retirado para conserto. No momento da fuga, dois agentes controlavam o setor de Pronto-Atendimento do Deic. Um terceiro chegaria como reforço às 18h.
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A fuga
Foi pouco depois das 15h que os detentos de uma das celas, com sete presos, iniciaram a fuga. Segundo a polícia, eles haviam conseguido arrebentar o cadeado e entortar a tranca com algum instrumento ainda não descoberto pelos investigadores. Naquele momento, chamaram um dos policiais que estava no plantão do Pronto-Atendimento do Deic até a cela. Quando chegou, o agente foi rendido.
O outro agente que dividia o plantão partiu em socorro e acabou entrando em luta corporal com os criminosos. Eles tentavam roubar a arma do policial e, na briga, a pistola disparou. O policial foi atingido na panturrilha de uma das pernas. E um dos presos, no joelho. Cinco detentos pegaram a arma e escaparam. Dois ficaram na cela.
Quatro dos fugitivos atravessaram a Avenida Cristiano Fischer e, no posto de combustíveis em frente ao Deic, renderam um motorista para roubar um Sandero vermelho. O quinto, identificado como Airton Gomes Frazão, 61 anos, escapou a pé em direção à Avenida Ipiranga. Este, permanece foragido.
A fuga no carro roubado durou menos de dois quilômetros. Ao depararem com uma viatura da Brigada Militar, eles tentaram escapar, mas colidiram contra um poste na altura no número 5900 da Avenida Ipiranga, em frente a uma revenda de veículos. Quatro acabaram presos.
O policial ferido, que não teve o nome divulgado pelo Deic, já foi liberado pelo HPS.
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Sindicato reage
Em seu site, a Ugeirm Sindicato, que representa os escrivães, inspetores e investigadores da Polícia Civil, divulgou uma nota de repúdio.
–A situação das carceragens vem sendo denunciada pela Ugeirm desde 2015, e nada foi feito. Vamos cobrar do governo uma atitude imediata. Exigir que acabe com essa situação. Um colega foi baleado dentro do Deic, se lá dentro não temos mais segurança para trabalhar, o que mais falta? – diz o presidente do sindicato, Isaac Ortiz.
Na última semana, o número de presos em delegacias, viaturas e no albergue Pio Buck bateu o recorde de 269 detidos. Na próxima terça-feira (25), o conselho de representantes da Ugeirm se reúne.
– Não vamos esperar que um colega seja morto dentro de uma delegacia para tomarmos uma atitude – desabafa Ortiz.