A falta de segurança em Porto Alegre fez uma família passar por momentos de tensão incomuns na tarde deste sábado. O aposentado Darcy Manjabosco, 71 anos, encontrou o próprio carro que havia sido roubado horas antes, estacionado em uma rua do bairro Bom Fim. Sem conseguir localizar um policial, fez a família "vigiar" o veículo por quase uma hora, até a chegada de patrulhas da Brigada Militar. Mesmo assim, não pode reaver o carro.
Darcy e a esposa seguiam em um Cobalt pela Rua Coronel Paulino Teixeira, no bairro Rio Branco, por volta das 12h, quando foram atacados por um homem armado. O bandido exigiu que o casal descesse do carro e entregasse a chave. As vítimas obedeceram, e o ladrão fugiu com o veículo.
Darcy pegou um táxi e foi até a 8ª Delegacia da Polícia Civil, no bairro Petrópolis, para registro da ocorrência de roubo. Além do carro, o bandido levou documentos pessoais. Darcy avisou a filha Camila do que tinha acontecido e ela foi ao encontro dos pais em outro carro. Rumaram para o bairro Bom Fim:
– A gente ia procurar um lugar para almoçar. Seguimos pela Protásio, depois Osvaldo Aranha e entramos à direita na Avenida Cauduro para fazer um retorno. Quando dobramos a curva, vi um Cobalt preto, botei o olho na placa e não tive dúvidas: era o meu carro – lembra o aposentado.
Leia mais
Polícia identifica suspeito de matar rainha de bateria em tentativa de assalto
Câmera registra momento em que rainha de bateria é assassinada
São Leopoldo registra duas mortes na madrugada
Passava das 14h30min. O Cobalt estava fechado e intacto, estacionado no lado esquerdo da via, sob a sombra de uma árvore e em frente a um prédio de apartamentos. Nenhum morador tinha visto o condutor e não há câmeras de vigilância no local. Tudo indica que o bandido teria deixado o veículo ali por algum tempo para buscar mais tarde. A tática é comum entre ladrões, chamada de "esfriar o carro", para descobrir se há algum dispositivo rastreador no veículo.
Mas Darcy chegou antes. Deixou a filha e o namorado dela a uns 50 metros do carro, como "guardas", cuidando o Cobalt, na esquina da Rua João Teles com a Avenida Cauduro, e pegou outro táxi até a 10ª Delegacia da Polícia Civil, na Rua Jacinto Gomes, distante seis quadras dali.
– Cheguei lá e encontrei a delegacia fechada. Na porta tinha uma placa escrito: horário de almoço – lamentou o aposentado.
Darcy pegou outro táxi em direção ao centro da cidade, onde mora, em busca da chave reserva do Cobalt, e voltou para o local. Nesse meio tempo, foram feitas pelo menos três ligações para o 190, o telefone de emergência da Brigada Militar.
– Eu queria pegar o carro e voltar para casa, mas fomos orientados a esperar a chegada de PMs, pois o carro estava em ocorrência de roubo e precisaria o alterar o registro na polícia – acrescentou Darcy.
Por volta das 15h30min, cerca de uma hora após o primeiro chamado para o 190, seis PMs chegaram ao local. Em seguida, foi chamado um guincho para conduzir o Cobalt até a 10ª DP. Darcy esperava receber o carro de volta, mas o veículo foi encaminhado para um depósito, onde será periciado. A devolução deve ocorrer na segunda-feira. Revoltado, o aposentado fez um desabafo:
– Minha maior indignação é não encontrar um policial na rua por todos os lugares onde andei. Foram mais de 40 quadras, fui ao centro, voltei e nada. Tive medo de que o ladrão aparecesse e me levasse o carro de novo.
O coronel Jefferson de Barros Jacques, comandante do policiamento da Capital, afirma que a escolta de presos tem demandado recursos do 9º Batalhão de Polícia Militar e aumentado o tempo de resposta do efetivo:
– Há 26 detidos na 3ª DPPA, e temos de fazer a escolta com um PM para cada preso. Além disso, desde a madrugada, quatro PMs escoltam quatro presos no HPS. Isso demanda recurso Tem ainda o trabalho de segurança no Carnaval no bairro Cidade Baixa, a partir desta tarde deste sábado e para isso, o efetivo será reforçado naquela região. De forma racional, estamos atendendo as ocorrências conforme nossa disponibilidade.