Avaliando o sistema carcerário gaúcho após a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, o juiz Sidinei José Brzuska, da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, afirmou que as facções do Rio Grande do Sul lucram muito dentro das prisões e, por isso, cai a probabilidade de um episódio semelhante ocorrer no Estado.
– No nosso cenário atual, dificilmente aconteceria isso, porque o nosso crime, aqui dentro das prisões, me parece ser mais organizado. As nossas facções aprenderam a lidar com o sistema, elas já fizeram a leitura do "bandido bom é bandido morto". A facção trabalha com essa lógica e viu nela uma forma de ganhar dinheiro. Então, quanto pior o presídio, melhor para o crime. As nossas galerias, as pessoas que controlam essas galerias, acabam tendo uma lucratividade muito grande. São locais de recrutamento de mão-de-obra para o crime, e não vão colocar em risco esses espaços, que são valiosos, que geram muito dinheiro para o próprio crime – disse o juiz em entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta terça-feira.
Ouça a entrevista completa:
Brzuska lembra que, de 2009 pra cá, as mortes dentro das prisões gaúchas caíram 80%.
O juiz também explica que as facções envolvidas com a rebelião no presídio de Manaus, que resultou em 56 mortos, não têm ramificações no Rio Grande do Sul.
– A facção exige uma cerca interligação entre o espaço dentro da prisão e o espaço controlado fora da prisão. Você precisa de muita gente solta para controlar o espaço na rua. Assim, pessoas de outros Estados não conseguiriam controlar esses espaços da rua porque não tem gente para fazer isso.
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Sobre o planejamento do motim no Amazonas, o magistrado afirmou que "dificilmente uma coisa como essa se dá da noite para o dia" e que provavelmente os sinais anteriores "não foram observados, ou foram ignorados, ou não se deu o devido valor".
Ainda analisando o sistema prisional do RS, Brzuska diz que o Estado já foi referência para o país. Ele acredita que o modelo de pequenos presídios deve ser retomado para que o Estado tenha controle sobre as prisões.
– Não existe facção em presídio pequeno, ela só se estabelece em presídios grandes. Por uma questão de economia, nós acabamos fazendo grandes complexos prisionais, porque se torna mais barato, e aí acaba gerando uma indústria do crime. Teremos que repensar os grandes presídios, porque isso não dá certo, o Estado perde o controle muito fácil em presídios grandes.
O juiz afirmou ainda que houve uma profissionalização do crime dentro das prisões e que é necessário reformar o sistema de forma absoluta. Para ele, o problema não está na falta de verba, mas na gestão política e, a longo prazo, a melhor saída seria investir na educação.