A rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal, chegou ao sexto dia nesta quinta-feira. Presos de diferentes facções entraram em confronto na manhã desta quinta-feira depois de detentos voltarem ao teto de ao menos três pavilhões da unidade.
Do lado de fora, muitos tiros disparados por policiais militares e agentes penitenciários eram ouvidos, assim como o barulho de bombas de efeito moral. Aglomerados próximo ao pavilhão 4, onde, no sábado, 26 presidiários foram mortos, os presos foram dispersados após os disparos de armamento não letal. De cima de um dos pavilhões, um preso gritava pela atenção da PM pedindo que liberasse o acesso para que os próprios presos "dessem um jeito".
Veja como foi a rebelião ao longo desta quinta-feira:
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No começo da tarde desta quinta-feira, o helicóptero da PM sobrevoava o presídio em auxílio a ação dos policiais nas guaritas que disparavam contra os presos. O conflito se intensificou e tiros ainda eram ouvidos ao meio-dia.
A nova rebelião acontece no dia seguinte à retirada de 220 internos ligados ao Sindicato do Crime do RN (SDC) do local. O governo do Estado remanejou presos entre três unidades visando a acalmar a situação em Alcaçuz. A Justiça, porém, determinou que parte da operação fosse desfeita.
A Vara de Execuções Penais de Nísia Floresta, cidade onde está situado o presídio, entendeu que presos foram retirados "à revelia" e estariam "correndo sério risco de morte, em especial porque a rebelião não foi controlada".
Em nota, o Tribunal de Justiça potiguar informou que "neste momento de desconfiança entre os presos, não há possibilidade de saber quem são os presos do Sindicato do Crime". "Só os do PCC estão se declarando como integrantes desta facção."
A decisão de interromper a operação montada pelo Estado foi tomada pela juíza Nivalda Torquato, que considerou ainda uma decisão de 2015 que interditou Alcaçuz para novos presos.
– Somente por meio de documento oficial e em condições de normalidade é que se pode permutar presos – informou a magistrada.
Veja imagens da rebelião de hoje
A transferência de Alcaçuz envolvia a permuta com presos retirados da Penitenciária Estadual de Parnamirim, que seriam divididos entre a unidade em NÍsia Floresta e a Cadeia Publica de Natal, na zona norte da capital. O governo disse que não ia comentar a decisão da juíza, mas ressaltou que na terça-feira foi realizada uma reunião com o TJ para repassar as informações sobre as transferências e organizar a operação.
– Os presos que não entraram em Alcaçuz passaram a noite na Cadeia Pública de Natal. Por questão de segurança, a secretaria de segurança não pode repassar informações neste momento sobre a nova operação de transferência – disse o governo em nota.
Não foi informado se os detentos retirados serão devolvidos à Alcaçuz.
O conflito, que chega ao sexto dia, agravou-se nas últimas horas e chegou às ruas do Estado. A Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social do Rio Grande do Norte registrou 28 ocorrências de ataques a ônibus, terminais urbanos, viaturas do governo, delegacias e outros prédios públicos na capital e em outras cinco cidades potiguares desde a tarde de quarta-feira. Foram incendiados 21 ônibus; seis carros e um caminhão. Sete pessoas foram detidas e conduzidas a delegacias.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Caio Bezerra, a possível relação dos ataques com a transferência de presos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, ontem, ainda está sendo investigada.
– As nossas forças de segurança estão mobilizadas para garantir a normalidade nas ruas e as investigações sobre possíveis retaliações já estão sendo feitas.
Há seis dias, as autoridades de segurança pública estaduais tentam retomar o controle do presídio, localizado na região metropolitana de Natal. A onda de ataques levou rodoviários e empresas de transporte urbano a recolherem os ônibus desde as 18h de quarta-feira. Veículos voltaram a circular no início da manhã desta quinta-feira, mas com atrasos. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores e Transportadores Rodoviários (Sintro-RN), alguns ônibus saíram das garagens escoltados por viaturas policiais.
Desde o último final de semana, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz é palco de confrontos e ameaças entre presos membros de facções criminosas rivais. De sábado para domingo, pelo menos 26 presos foram assassinados por outros detentos durante uma rebelião de mais de 14 horas de duração. Desde então, presos circulam livremente pelo pátio da unidade, portando facas, barras de ferro e paus. As autoridades estaduais de segurança pública desconfiam que o número de mortos no confronto entre presos pode ser maior e que corpos podem ter sido jogados em fossas de esgoto na área interna do presídio.
O governo do Rio Grande do Norte pediu ao governo federal o envio de equipes das Forças Armadas para auxiliar as forças locais a inspecionarem o interior dos presídios estaduais em busca de armas, aparelhos celulares, drogas e outros produtos e substâncias proibidas. Tropas da Força Nacional de Segurança Pública também já atuam no estado desde setembro do ano passado, auxiliando a Polícia Militar no policiamento ostensivo.
REBELIÕES E FUGAS EM MASSA EM 2017
1º de janeiro: Compaj, em Manaus (AM)
Uma briga entre facções criminosas deixou 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. A maioria dos mortos foi decapitada e teve o corpo esquartejado. Detentos de presídio vizinho, o Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), também tentaram fugir e deram início a uma rebelião, que acabou controlada pela Polícia Militar. Segundo o governo, 225 presos fugiram nas duas unidades. No mesmo dia, autoridades do Amazonas informam que 77 detentos haviam sido recapturados.
2 de janeiro: Unidade Prisional de Puraquequara, em Manaus (AM)
Quatro presos foram mortos em Manaus na Unidade Prisional de Puraquequara (UPP), que fica na zona rural.
4 de janeiro: Presídio Romero Nóbrega, em Patos (PB)
Uma rebelião no presídio Romero Nóbrega, em Patos, no sertão paraibano, foi controlada no início da tarde. O motim havia começado pela manhã e terminou com duas pessoas mortas e outras duas feridas.
6 de janeiro: Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR)
Rebelião na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, deixou 33 presos mortos. Após o motim, um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), acusado de comandar o maior massacre de presos da história de Roraima, foi considerado desaparecido por oito dias. Ele estava escondido em outra cela do presídio.
8 de janeiro: Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus (AM)
Mais quatro presos foram mortos em Manaus, dessa vez, na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa. Após ter sido fechada por recomendação do Conselho Nacional de Justiça, a penitenciária havia sido reativada para receber detentos transferidos após o massacre do primeiro dia do ano, no Compaj.
13 de janeiro: Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvado (BA)
Na madrugada, um grupo de 17 detentos serrou as grades de uma cela e fugiu do Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador. A fuga só foi percebida pela manhã, quando os agentes penitenciários da unidade viram os danos nas grades e em três barreiras fixas.
13 de janeiro: Coordenadoria de Polícia Civil do Interior (Coorpin) de Santo Antônio de Jesus (BA)
Vinte e um presos fugiram da carceragem da 4ª Coordenadoria de Polícia Civil do Interior (Coorpin) de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo da Bahia.
14 de janeiro: Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta (RN)
Rebelião na penitenciária de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, deixou pelo menos 26 presos mortos. Todas as vítimas teriam sido decapitadas. O motim começou na noite de sábado e só foi controlado 14 horas depois, com a entrada de policiais militares e agentes penitenciários no local. O número total de vítimas e a identificação delas depende de uma força-tarefa do governo estadual.
15 de janeiro: Complexo Penitenciário de Piraquara (PR)
Vinte e seis presos fugiram do Complexo Penitenciário de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Outros dois morreram durante confronto com policiais do Paraná.
15 de janeiro: Presídio Regional de Ibirité (MG)
Dez detentos fugiram do presídio de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, por volta de 3h. Não houve registro de rebelião, motim ou feridos.
16 de janeiro: Presídio Provisório Raimundo Nonato, em Natal (RN)
Um dia depois de Alcaçuz, o Presídio Provisório Raimundo Nonato, conhecido como Cadeia Pública de Natal, foi palco de detentos que tentaram derrubar uma parede. De acordo com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), a polícia interveio e evitou a fuga.
18 de janeiro: Penitenciária Estadual do Seridó, em Caicó (RN)
Um preso foi morto à noite durante rebelião em um presídio no Rio Grande do Norte. O motim aconteceu na Penitenciária Estadual do Seridó, o Pereirão, em Caicó.