Conforme o Corpo de Bombeiros de Getúlio Vargas, o presídio da cidade, no norte do Estado, onde quatro detentos morreram em incêndio na manhã desta quarta-feira, não tem Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). A casa prisional, com capacidade para 56 presos, abrigava 119 no momento em que o fogo iniciou em uma das celas do alojamento destinado aos detentos do semiaberto. Além disso, apenas dois agentes penitenciários cobriam o turno.
A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) diz que o plano está em fase de realização de orçamentos. Sobre a quantidade de agentes, o delegado da 4ª Região Penitenciária, Rosalvaro Portella, reconhece que o número é insuficiente:
– Não é o ideal. Deveria ter mais, mas essa é a situação em toda a nossa região. A gente está trabalhando com o que tem – disse, ao lembrar que foi instaurado um procedimento administrativo para apurar as causas do incêndio:
– A gente sabe que a fumaça canalizou e chegou até a galeria. Agora, como o fogo começou, não sabemos. Estamos investigando – disse Portella.
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Conforme a Polícia Civil, o corredor principal do Presídio Estadual de Getúlio Vargas parecia uma chaminé pouco antes das 7h, quando teve início o incêndio, a partir do alojamento destinado a detentos do regime semiaberto.
Fogo iniciou no semiaberto
Na cela onde teria iniciado o incêndio, dormiram 17 presos, mas 10 deles já haviam saído para trabalhar quando os colchões pegaram fogo. A fumaça se espalhou pelo corredor principal até chegar na galeria do regime fechado, percorrendo um trajeto de aproximadamente 50 metros em forma de "L". Na grande cela ao fundo estavam 102 presos, entre eles Taylor Telles, 20 anos, Everti Espedido Ribeiro, 20 anos, Amaurí de Camargo, 37 anos, e Eduardo dos Santos, 30 anos, que acabaram morrendo. Outros 14 foram encaminhados para atendimento médico em hospitais da região. Até o fim da tarde desta quarta-feira, dez haviam retornado para a casa prisional, quatro seguiam internados no hospital de Erechim. O estado de saúde deles não foi informado para instituição.
Uma das hipóteses levantadas no início da investigação pela Polícia Civil é que a queima dos colchões teve início para pressionar as autoridades a progredir os apenados do semiaberto para prisão domiciliar.
– Estamos ouvindo todo mundo. Apurando as causas. É muito cedo para dizer alguma coisa – argumenta a delegada Raquel Kolberg.
O socorro
O sargento Marcos Fernando Pádua, do Corpo de Bombeiros, foi um dos primeiros socorristas a chegar no presídio. Logo ele deparou com uma cortina de fumaça que alcançava dois metros além do telhado do presídio. Ali ele diz já ter percebido o tamanho do problema. Foi parte dessa fumaça que percorreu os 50 metros de corredor entre o alojamento e a galeria.
– A minha primeira imagem foi aquela fumaça saindo lá de dentro. Logo que chegamos, começamos a refrescar o corredor. Tinha uma fumaça escura e estava muito quente. Só depois disso conseguimos avançar, mas com muita dificuldade. Parecia que a gente estava cozinhando. A fumaça entrava na máscara – detalhou.
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Antes da chegada do Corpo de Bombeiros, os agentes penitenciários conseguiram abrir as celas e colocar todos os detentos no pátio interno, deixando o caminho livre para os brigadistas combater as chamas. Enquanto alguns apagavam o fogo, os próprios presos alcançavam seus colegas feridos e mortos para os socorristas da cidade e de municípios vizinhos.
– Deixavam em um corredor com grades e a gente ia pegando eles. Por segurança, não podíamos entrar no pátio – complementou Pádua.
Entre a manhã e a tarde desta quarta-feira, policiais levaram os presos para prestarem depoimentos na delegacia local. A tensão entre familiares do lado de fora foi constante enquanto o delegado da 4ª Região Penitenciária não dava certeza sobre o destino dos detentos.
–Vamos ver se poderão ficar aqui ou se serão transferidos para presídios da região. Também não descartamos prisão domiciliar – comentou.
Ele aguardava a avaliação do Instituto Geral de Perícias sobre os danos causados pelo fogo à estrutura da casa prisional.