O Ministério Público (MP) cumpre três mandados de busca e apreensão nos municípios de Ivoti e Taquara na investigação sobre suspeita de fraude na fila do Sistema Único de Saúde (SUS), batizada de Operação F5. O crime consistiria na inserção de pacientes no sistema de informações para que conseguissem o agendamento de consultas e exames mais rapidamente.
Os alvos dos mandados são a prefeita eleita de Ivoti, Maria de Lourdes Baurmann (PP), a correligionária Irani Weber e a vereadora eleita de Taquara Magali da Saúde (PTB), ex-servidora da Secretaria da Saúde da cidade. Entre os endereços das buscas, está um posto de saúde de Taquara.
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Segundo o MP, a prefeita e a correligionária são suspeitas de operar como intermediárias do sistema fraudulento. Elas reuniriam pacientes do SUS em Ivoti e os encaminhariam para Taquara, onde, por meio da inserção de informações falsas no sistema, como a troca de endereço, acabariam furando a fila do SUS a partir de vagas abertas de desistências de última hora. Essa etapa do crime seria executada por Magali.
– Um dos motivos das buscas é tentar descobrir o que havia em Ivoti para que as pessoas agendadas pelo município conseguissem marcar as consultas de forma mais rápida. Essas pessoas que furaram a fila só não terão prejudicado outros pacientes se, na fila dessa especialidade, não tivesse mais ninguém. O que é bastante improvável – explica o promotor criminal Flávio Duarte, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
A investigação suspeita de crime de inserção de dados falsos em sistema de informações. O MP ainda quer esclarecer a motivação da fraude. A desconfiança é de compra de votos por meio do esquema porque pessoas beneficiadas começaram a se filiar no partido da prefeita eleita. Essa apuração deve ficar sob responsabilidade do Ministério Público Eleitoral (MPE) de Ivoti e Taquara.
Foram mapeados 11 casos de pacientes moradores de Ivoti que, por intermédio das três investigadas, teriam conseguido o agendamento de consultas médicas em tempo recorde. A estratégia consistiria em cadastrar as pessoas como moradoras de endereços inexistentes em Taquara.
Um dos casos se refere a cirurgias plásticas nas pálpebras e no nariz, outro de uma consulta oftalmológica agendada para apenas 16 dias depois da marcação – cuja espera costuma ser superior a um ano – e um terceiro episódio é uma consulta com oncologista marcada para 15 dias depois da inserção no sistema.
Zero Hora tentou contato com Maria de Lourdes, Irani e Magali, mas ainda não conseguiu localizá-las. Em vídeo divulgado pela Rádio ABC 900 AM em sua página no Facebook, a prefeita eleita aparece em frente à sua casa após o cumprimento dos mandados de busca e apreensão. Diante de um grupo de apoiadores que a saúdam, Maria de Lourdes diz não ter "nada a esconder".
– É isso que é a política. É isso. Eu sabia quando eu fui candidata que isso era o que eu ia sofrer. Eu não me arrependo de nada. Eu não tenho nada o que esconder na minha casa, nunca escondi nada – diz a prefeita eleita, que negou compra de votos:
– Eu nunca pedi voto em troca, eu nunca pedi que alguém me ajudasse. Eu não tenho vergonha. (Devem ter) Vergonha, sim, aqueles que pediram para bater aqui na minha casa. Documentos levaram, sim, porque eu não escondi nenhum. Eu não preciso esconder nada de ninguém. Foi um trabalho por amor, porque as pessoas me amam. Ivoti me ama, e eu amo meu povo – declarou.