Passado quase um ano do alerta de emergência global emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por conta da ameaça do vírus da zika, que disseminou pânico entre gestantes, este será o verão em que deverá ocorrer um aumento expressivo dos casos de chikungunya. As duas doenças, além da dengue, que também já foi mais marcante em outras temporadas, são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Apesar de um sentimento generalizado de que "o pior já passou", especialistas salientam que a população precisa continuar se prevenindo, eliminando possíveis criadouros do inseto e utilizando roupas de mangas compridas e repelente nas áreas de maior risco.
Estão sujeitas a contrair essas enfermidades as pessoas que nunca as tiveram antes. O Rio Grande do Sul é considerado mais suscetível à chikungunya atualmente porque o vírus ainda não circulou de forma significativa pelo Estado antes – os gaúchos, "virgens" para esta infecção, estariam portanto mais propensos a contraí-la. Os fluxos de viajantes são determinantes nesse cenário. Turistas do Sul que passam férias em outras regiões do país, ou os radicados em outros Estados que vêm para cá visitar familiares, podem ser picados por mosquitos que carregam o vírus e trazer a doença, que então se espalha pelo território a partir das picadas de outros mosquitos.
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– Temos o vetor e temos diversas pessoas suscetíveis. O que falta é o vírus circular – explica Eduardo Sprinz, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Doenças podem ter consequências graves
Dengue, zika e chikungunya têm muitos sintomas em comum, o que dificulta o diagnóstico – e, de modo geral, os médicos ainda precisam observar mais, a longo prazo, o comportamento dos vírus, para entendê-los melhor. A chikungunya, que também pode ser transmitida pelo Aedes albopictus, geralmente provoca febre alta de início rápido e dores intensas nas articulações de pés, mãos, dedos, tornozelos e pulsos (leia mais ao lado). A maior parte dos casos tem manifestação de sintomas, e há risco de que o paciente sofra com dores crônicas por anos.
– A dengue sem atendimento médico nos casos graves pode levar a óbito.
A chikungunya, a dores incapacitantes. E a zika pode provocar malformação em fetos e sintomas neurológicos que podem comprometer o indivíduo e até levar à morte – resume Sprinz.
Tainá Fagundes Behle, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, recomenda que as grávidas continuem reforçando a proteção.
– Acho que não há motivo para um pavor insano, sobretudo aqui no Rio Grande do Sul, mas as gestantes devem tomar cuidado: que pelo menos no verão usem repelente, que procurem atendimento médico se tiverem sintomas e evitem lugares que têm circulação aumentada do vírus – orienta a médica. – Em geral, temos uma preocupação com saúde bem pequena. Nos preocupamos sazonalmente e depois acabamos esquecendo – completa.
Quanto aos repelentes, Tainá recomenda os produtos à base de icaridina e ressalta que devem ser seguidas as orientações de uso especificadas nas embalagens. É importante obedecer à frequência de aplicação e reaplicar após banhos de chuveiro, mar ou piscina. O repelente deve ser passado depois do filtro solar.
Proteja-se dos mosquitos
– Elimine ou cubra locais com água parada (pneus, latas, vidros, caixas d'água e outros reservatórios mal tampados), que são possíveis criadouros de mosquitos. Reforce o alerta de prevenção na vizinhança.
– Em vez de água, coloque areia nos pratos dos vasos de plantas.
– Lave e escove os bebedouros de animais.
– Mantenha ralos, canos e calhas desentupidos.
– Guarde garrafas vazias com o gargalo para baixo.
– Trate a água da piscina o ano inteiro.
– Vista calças compridas e blusas de manga longa nas áreas de maior risco.
– Repelentes e inseticidas, telas em janelas e portas complementam a proteção.
– Mosquiteiros são uma boa opção para quem dorme durante o dia, como bebês, doentes acamados e trabalhadores noturnos. Nesse período, os mosquitos estão mais ativos.
Fontes: Ministério da Saúde e Secretaria Estadual da Saúde