Não é musculação, treinamento funcional, corrida, ioga ou qualquer outra modalidade de exercício físico. A grande aposta fitness para 2017 cabe no bolso (ou na bolsa), conta passos, calorias, batimentos e ainda zela pelo seu sono. As wearables technologies (tecnologias "vestíveis", em tradução livre) encabeçam a lista anual do Colégio Americano de Medicina do Esporte (American College of Sports Medicine/ ACSM) – maior organização de medicina do esporte e educação física do mundo – divulgada no fim de outubro.
Esta é a segunda vez que as tecnologias aparecem no topo da lista, ficando à frente de muitas práticas consideradas "coqueluches" por profissionais da área. Até o final de 2014, quando foram elencadas as tendências para 2015, essas ferramentas de controle do exercício sequer figuravam as dez mais.
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– Tecnologia é, hoje, um "tem que ter" no dia a dia. Todo mundo pode contar passos facilmente, ou contar as calorias que foram queimadas usando um wearable ou um smartphone – disse o autor do levantamento, Walter R. Thompson, ao site do ACSM.
Para chegar às 20 tendências do próximo ano, a entidade ouviu mais de 1,8 mil profissionais da saúde e da área de educação física.
Além das tecnologias, a 11ª edição da pesquisa também contemplou atividades como treinamento com peso do corpo, ioga, musculação e HIIT.
ZH ouviu três especialistas para falar sobre as dez primeiras tendências citadas pela entidade e eles foram unânimes: quando o assunto é atividade física, o mais importante é investir tempo e dinheiro naquilo que dá prazer.
– Tem que fazer o que se gosta e não o que está na moda – defende a conselheira do Conselho Estadual de Educação Física (Cref) Luciane Citadin.
O diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, Ivan Pacheco, reforça:
– A melhor forma de indicar um exercício é ver o que a pessoa gostaria de fazer. Caso contrário, ela faz um mês e desiste.
Confira a lista e o que os entrevistados dizem sobre ela.
1. Tecnologias "vestíveis"
Contar passos, verificar batimentos cardíacos, avisar quando você precisa levantar da cadeira e dar uma caminhada são apenas algumas das possibilidades das ferramentas chamadas de "tecnologias vestíveis". Seja no formato de relógios ou pulseiras, elas reúnem informações sobre a rotina do usuário e vão além: são capazes de interpretar esses dados, transmiti-los para profissionais (nutricionista, médico, profissional de educação física) e motivar o paciente.
– Eles facilitam a vida das pessoas porque tudo fica centralizado em um único lugar. Eles também permitem que a pessoa compartilhe tudo nas redes sociais, gerando uma espécie de gameficação, tornando o processo mais divertido – avalia o professor da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Rafael Baptista.
Mesmo com tantas vantagens, é imprescindível ter consciência dos seus limites e respeitá-los.
– É preciso levar em conta o biótipo e os objetivos de cada pessoa. Tenho uma aluna que usa um aplicativo de corrida, mas não consegue cumprir tudo. Para uns, a tecnologia pode ir além do que eles conseguem mas, para outros, aquém – observa Luciane.
2. Treinamentos com o peso corporal
Enquanto a indústria que fomenta as academias corre atrás de tecnologias para oferecer equipamentos de última geração, essa tendência que alcançou o segundo lugar resgata a simplicidade do exercício. Usando apenas o peso do corpo ou pouquíssimas ferramentas, esse tipo de treinamento traz uma nova roupagem para uma moda dos anos 1980, conforme aponta Baptista:
– O mundo fitness tem a mesma característica da moda, a de ser cíclica.
Além de romper com a sofisticação dos aparelhos, essa modalidade agrega benefícios importantes, pois acabam por repetir atividades rotineiras como subir degraus, saltar ou agachar.
3. High-Intensity Interval Training (HIIT)
Contrariando uma crença da década de 80, quando se acreditava que emagrecimento e resistência cardiorrespiratória só eram possíveis com a prática de exercícios aeróbicos de baixa a moderada intensidade e com longa duração, o HIIT trouxe a proposta de atividades intensas e de curta duração. Há comprovação científica que apenas 30 minutos de atividade por dia são suficientes para obter bons resultados para a saúde. Como todo exercício físico, a indicação é que a pessoa procure um médico antes de se jogar na modalidade.
– É preciso ter acompanhamento de um profissional de Educação Física e estar com os exames em dia – orienta o professor da PUCRS.
4. Profissionais graduados e experientes
Este item reflete uma realidade mais específica do mercado norte-americano, no qual os personal trainers não precisam ser graduados em Educação Física.
– No Brasil, eu substituiria esse item pela importância da graduação em Educação Física com certificações adicionais – explica Baptista.
5. Treinamento de força
Entra ano, sai ano, a boa e velha musculação segue como uma tendência.
– E vai continuar por um bom tempo – arrisca Baptista.
A grande sacada da modalidade é que ela permite que pessoas diferentes níveis de aptidão física façam os exercícios, sempre adaptados para cada aluno. Como resultados, ela auxilia na correção postural, reduz as dores do corpo, dá força e resistência muscular entre outros. Também atuam no reforço das articulações.
6. Treinamento em grupo
– Muitas pessoas acharam que as aulas coletivas iam morrer, no entanto, elas têm cada vez mais adeptos – diz a conselheira do Cref.
E não faltam boas razões para este fenômeno. Treinar em grupo dá uma motivação extra na hora de sair de casa, pois a aula acaba se tornando divertida e um aluno puxa o outro na hora de mexer o corpo. Além disso, essas práticas ainda costumam ser mais baratas, diminuindo o investimento necessário para se exercitar.
7. Exercício como medicamento
Não faltam estudos para comprovar os inúmeros benefícios dos exercícios para a saúde e a qualidade de vida. Há algum tempo, inclusive, eles começaram a ser indicados como coadjuvantes no tratamento de algumas doenças.
– Muitas pessoas com hipertensão leve voltam a ter níveis normais de pressão e não precisam mais tomar remédios – exemplifica Pacheco.
Problemas psíquicos como depressão e ansiedade também podem ser melhorados com a prática frequente. Doenças ortopédicas são outras que comportam indicação de exercícios.
– Curamos muitas dores articulares com reforço muscular – fala Pacheco.
8. Ioga
Parar, cuidar da respiração, acalmar o corpo e a mente são alguns dos propósitos da prática.
– Estamos vivendo um estresse tão grande que é bom aquietar a mente fazendo um trabalho com o corpo – justifica Luciane.
Dentre os benefícios do ioga, pode-se citar bem-estar físico, melhora do sono e da respiração, aumento da flexibilidade, fortalecimento da musculatura, autoconhecimento e redução do estresse físico e emocional.
9.Personal trainer
Baptista destaca que a atuação destes profissionais é mais um fator de motivação importante, assim como as aulas em grupo. No entanto, diferente das atividades coletivas, o personal trainer está ao lado do aluno o tempo todo, prestando orientações sobre o treinamento e corrigindo os movimentos. Além disso, o treino é exclusivo e busca atingir os objetivos pré-estabelecidos pelo aluno. O principal empecilho costuma ser o custo elevado do serviço.
– Personal é o cara que estimula. Ele vai na tua casa, na academia, é um profissional particular que vai onde e quando a pessoa pode. Mas o valor ainda é alto – analisa Luciane.
10. Exercício e perda de peso
Quando o assunto é emagrecimento, especialistas fazem coro ao citar a dobradinha alimentação equilibrada e exercício físico regular.
– Para mim, é uma surpresa que este item tenha ficado em décimo lugar em um país como os Estados Unidos, com grande prevalência de sobrepeso e obesidade – diz o professor da PUCRS, acrescentando que este tópico não deve sair da lista nos próximos anos em função do estilo de vida sedentário que as pessoas estão levando.
– Era um problema de adultos, mas agora tem sido de crianças e adolescentes – finaliza.