O Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, emitiu, nesta sexta-feira, uma orientação que proíbe a comercialização de determinados sabonetes antibacterianos. A justificativa para a nova regra é que não há garantia de que estes produtos sejam seguros a longo prazo.
Estão sendo retirados das prateleiras dos supermercados norte-americanos os sabonetes que contenham substâncias como triclosan e triclocarban.
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– Os consumidores pensam que usar produtos antibacterianos é mais eficaz na prevenção da propagação de germes, mas não temos nenhuma evidência científica de que eles são melhores do que o sabão comum e água – afirmou na nota a diretora do Centro do FDA para Avaliação e Pesquisa de Drogas, Janet Woodcock.
Conhecido por seu poder antibacteriano, o triclosan já foi associado a disfunções hormonais em homens e mulheres e também a uma maior resistência das bactérias aos antibióticos. Fora isso, estudos em animais sugerem que a exposição à substância teria ligação com maior risco de câncer.
– É preciso ter cuidado para não provocar um alvoroço. São estudos em células ou animais que trazem um relato bem pouco detalhado de câncer de fígado – pondera a médica do Centro de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento Daniela Rosa.
Contudo, não há uma orientação médica para que este tipo de sabonete seja incorporado na rotina diária de higiene. Utilizar apenas água com sabão simples é suficiente para remover a flora transitória, que é aquela que não é natural do organismo e sai com a limpeza.
– Ainda não existe estudo demonstrando segurança pra uso desses produtos nas mãos, muito menos no corpo inteiro. A gente lança essa questão e quem tem que responder é a indústria que faz o produto – diz o médico infectologista e membro do Comitê de Controle de Infecção da Sociedade Brasileira de Infectologia Marcelo Carneiro.
Resistência bacteriana seria o pior efeito
Curar uma gripe à base de antibióticos é uma medida cada vez mais comum entre as pessoas. No entanto, há um grande problema no uso indiscriminado deste tipo de medicamento: o consumo frequente pode tornar as bactérias resistentes a ele, tornando seu uso ineficaz em uma próxima vez.
Da mesma forma atuariam os sabonetes: induzindo que esses micro-organismos se tornem cada vez mais fortes resistentes. O uso também pode alterar a flora residente da pele, que é aquela natural.
– Não recomendo o uso desses produtos. Primeiro, para não ocorrer a indução de resistência bacteriana. Segundo, porque são mais agressivos à pele e criam problemas dermatológicos – indica o médico infectologista Renato Cassol.
Por outro lado, é preciso entender que apesar da medida, não há evidências contundentes que comprovem possíveis malefícios do uso continuado do produto.
– Não se sabe se a resistência bacteriana seria aumentada. O grande problema é a falta de estudos científicos. Foi pedido para as indústrias demonstrarem e comprovarem a eficácia e elas não encaminharam esses estudos. Então, se não tem pesquisa, não podem fazer propaganda – observa Carneiro.