Um grupo de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos testou em camundongos, com sucesso, duas vacinas experimentais contra o zika vírus. Os resultados da pesquisa foram publicados nesta terça na revista científica Nature Communications.
Os cientistas testaram uma vacina com o vírus inativo e uma vacina de DNA – que utiliza apenas algumas das proteínas do vírus para estimular uma resposta do sistema imunológico contra ele –, e ambas forneceram proteção total a camundongos suscetíveis ao zika.
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De acordo com um dos autores do estudo, Paolo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), os resultados do estudo são animadores, embora ainda sejam apenas uma "prova de conceito", isto é, uma demonstração de que é possível produzir uma vacina contra o zika vírus.
– O estudo é importante, porque demonstra que, a princípio, é possível vacinar contra a zika. É um estudo com camundongos, ainda em estágio pré-clínico, mas é uma notícia muito boa que tenhamos um modelo que mostra uma reação imunológica contra o vírus – disse Zanotto ao jornal O Estado de S. Paulo.
Zanotto, que também é o coordenador da Rede Zika – uma força-tarefa dos cientistas paulistas para estudar e deter a epidemia de zika –, coordenou a parte brasileira do estudo em conjunto com Jean Pierre Peron, também do ICB-USP. Nos Estados Unidos, o estudo foi coordenado por Dan Barouch, da Harvard University.
Segundo Zanotto, as vacinas forneceram proteção de 100% aos camundongos que, depois de vacinados, foram infectados e não apresentaram a presença do vírus no organismo, indicando que a infecção não progrediu.
De acordo com o cientista, os animais foram infectados com uma linhagem do vírus originária de Porto Rico e com uma linhagem que circula no Brasil, obtida a partir de um bebê na Paraíba. Nos dois casos, a vacina foi eficaz, induzindo uma resposta imunológica. Nos camundongos que receberam placebo, em vez das vacinas, houve infecção e a presença do vírus no organismo durou até seis dias.
Estratégias
Em uma das candidatas, a vacinas utiliza a abordagem mais clássica de imunização: uma forma inativada do vírus é purificada e tratada com substâncias que não permitem a replicação do RNA – o código genético – do vírus.
– É como se trabalhássemos com um vírus morto, mas cujo aspecto espacial externo é idêntico ao do vírus vivo. Por isso, ele funciona como antígeno, isto é, aciona o sistema imunológico a produzir anticorpos – explicou Zanotto.
Já a vacina de DNA, de acordo com o cientista, não utiliza o vírus inteiro inativo, mas apenas duas de suas proteínas que são importantes para que o vírus consiga aderir às células e infectá-las. Para isso, os cientistas testaram várias combinações de proteínas do vírus e a que mostrou melhores resultados foi a união da proteína pré-membrana (prM) e da proteína do envelope externo do vírus (Env).
– As duas proteínas são inseridas em um plasmídeo, que é uma pequena molécula de DNA. Esse DNA é então jogado dentro das células, que produzem as proteínas, induzindo uma resposta de anticorpos – disse Zanotto.
Segundo Zanotto, ainda será preciso realizar uma série de pesquisas para definir se uma futura vacina contra o vírus zika usará a abordagem do vírus inativado ou a da vacina de DNA. Segundo ele, o novo estudo é ainda uma preparação para a fase pré-clínica das pesquisas para o desenvolvimento da vacina contra o zika.
– O estudo preparou os modelos que utilizaremos nos ensaios pré-clínicos. Em seguida, os testes serão feitos com grandes roedores e depois com primatas não-humanos. A partir daí, são feitos inúmeros testes para avaliação da segurança e da eficácia da vacina e, se tivermos sucesso, começarão os estudos clínicos propriamente ditos – afirmou.
*Estadão Conteúdo