Diferentemente da melodia chiclete da Sandy, não acho que o outono é sempre igual, ainda mais no Rio Grande do Sul, onde uma luz cinematográfica toma conta da paisagem. Por aqui, as folhas caem muito além do quintal, desenhando roteiros imperdíveis para visitar e clicar os filhos. Aliás, o outono é o oportunidade que todo fotógrafo amador precisa para exercitar seus dotes adormecidos sem os filtros do Instagram. Já testou?
Comecei a me surpreender com minhas fotos em um outono entre o Vale dos Vinhedos e o Caminhos de Pedra. As crianças rolavam nas folhas, a paisagem ora amarela, ora laranja-avermelhada sobre a textura marcante dos vinhedos. Click! Quer uma experiência sem igual na sua lente? Experimente, nessa época, pegar o trem Maria Fumaça no fim de tarde e admire a visão do horizonte dourado pela janela. O ingresso para esse trajeto é o das 15h partindo de Bento Gonçalves, ou o das 16h partindo de Carlos Barbosa.
Delicadezas e nuances vão sendo desvendadas por quem apura o olhar sempre tão apressado. Na capital gaúcha, a estação tem o seu tesouro escondido no corre-corre do bairro Bela Vista na pequena praça Gustavo Langsch. Num piscar de olhos, entre maio e junho, as folhas se espalham, escrevendo poesia em imagens. Câmera a postos, pois o fundo deslumbrante vai fazer muito amigo seu do Facebook pensar que você levou a família para a Europa.
Voltando ao campo de visão da serra gaúcha, é no outono que a Rota Romântica faz jus ao nome que recebeu. Tons de laranja, amarelo e vermelho formam um túnel de plátanos de incontáveis suspiros. É verdade que as curvas enjoam, mas é só tirar o pé do acelerador que os tons terrosos sob os raios de sol compensam. A Casa da Vovó em Dois Irmãos e a propriedade encantadora do El Paradiso em Morro Reuter são duas ótimas opções para almoço típico no fim de semana pela BR-116.
Outra dica saborosa é fazer um trajeto inusitado da própria Rota Romântica, entrando em Ivoti e seguindo rumo à Serra pela VRS-865. A estrada passa dentro da minúscula e fotogênica Presidente Lucena, cidade repleta de vestígios da colonização alemã. Em frente ao restaurante Dheinhaus, uma bandinha alemã alegra os famintos. Afora o bufê com especialidades da culinária germânica, o local conta com um jardim e uma pracinha para curtir a vida sem e com um bom chimarrão. Psiu: leve uma cuca quentinha da venda. E, se for dirigir até Nova Petrópolis, não deixe de apreciar o outono na praça central do Labirinto ou no pôr do sol no mirante do Ninho das Águias.
Como sugestão final, e ponto de fuga, dê um pulo no Ecoland de Igrejinha. Minhas fotos mais imprevisíveis de outono foram feitas por lá com a gurizada pescando, curtindo um piquenique, bicicleta, carreta de boi e um vale rodeado por uma perspectiva singular.
Enfim, são muitas as paisagens perto de casa que tiram o fim de semana e o nosso olhar do modo automático. Dão um sopro de vida aos retratos que vão capturar a história da família. E já que dizem que o outono é tempo de renovação, não dá para deixar de desejar um click também no olhar e no futuro dos brasileiros. Há muitas folhas caídas pelo caminho. Que a luminosidade da estação melhore não só a imagem do Brasil, como também a do país que sonhamos para nossos filhos.