A última etapa de testes de uma vacina brasileira contra a dengue começou nesta segunda-feira em São Paulo com o cadastro de 2 mil voluntários. Desenvolvida pelo Instituto Butantan, a vacina já foi testada em 900 pessoas nas duas primeiras fases de testes. Para esta terceira parte, são necessárias 17 mil pessoas de 2 a 59 anos dispostas a passar pelos testes clínicos, já aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os estudos começam com 1,2 mil voluntários recrutados pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), um dos 14 centros credenciados pelo Butantan para a realização dos testes. Porto Alegre é a única cidade da região Sul que vai realizar os testes, mas o cronograma de vacinação ainda não foi divulgado. Esta última etapa da pesquisa servirá para comprovar a eficácia da vacina.
A assinatura de um contrato entre o Ministério da Saúde e a Fundação Butantan, feito pela presidente Dilma Rousseff, garantiu R$ 100 milhões nos próximos dois anos para o desenvolvimento do estudo. Ao todo, a previsão é um investimento de R$ 300 milhões do governo federal. O Butantan tem a vacina brasileira contra dengue em fase mais avançada de pesquisa.
No primeiro dia de testes em São Paulo, 10 pessoas foram vacinadas. A vacina do Butantan, desenvolvida em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), tem potencial para proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose e é produzida com os vírus vivos, mas geneticamente atenuados (enfraquecidos). Dois em cada três voluntários irão receber a vacina, enquanto o restante receberá placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem o vírus, ou seja, sem efeito.
– Todos os estudos até aqui apontam que a vacina é segura e que ela estimula o organismo a produzir anticorpos de maneira equilibrada contra os quatro vírus da dengue – explica o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil.
O teste clínico deve durar um ano, e a expectativa do instituto é que a vacina esteja disponível no país a partir de 2018. Uma vacina contra a dengue – a Dengvaxia, da francesa Sanofi Pasteur – foi aprovada no Brasil pela Anvisa em dezembro, mas ainda não foi regulamentada. A vacina é indicada para pessoas entre 9 e 45 anos e protege contra os quatro tipos do vírus da dengue. O medicamento deve começar a ser vendido no país no primeiro semestre de 2016 e a capacidade de produção do laboratório é de 100 milhões de doses por ano.
Já o Butantan tem um fábrica de pequena escala para a vacina da dengue pronta e equipada para produzir 500 mil doses por ano, capacidade que pode ser aumentada para até 12 milhões de doses por ano com algumas adaptações industriais, segundo o instituto.