Entra ano, sai ano, e é sempre a mesma coisa. Independentemente da idade, da posição social ou do gênero, temos de lidar com as despedidas inevitáveis pelo caminho. Quando dezembro bate a nossa porta, então!
A despedida é em massa e tem até um certo glamour. Compram-se roupas com cores cheias de significado, marcam-se encontros com pessoas especiais e, não raro, bebe-se o que de melhor se encontra na adega. A despedida do ano vem acompanhada da esperança de renovação, da fé de que basta mudar um dígito no ano que tudo tende a melhorar. Depois, o tempo vai passando e a gente percebe que não é bem o dígito do ano que precisa mudar para que o entorno modifique.
Mas, além da despedida do ano, muitas vezes dezembro nos exige despedidas bem mais sacrificadas e pouco charmosas. Muita gente se despede dos colegas de escola, dos professores da turma, dos amigos que cresceram, do emprego que tinha, do colégio que frequentou, da casa onde sempre viveu, da cidade em que morava, da família.
Despedida nem sempre é sinônimo de esperança e encantamento. Às vezes, pode ser apenas separação, partida, adeus. E nem todos estão preparados para isso. Aí que entra uma característica importante e que pode - e deve - ser desenvolvida: a resiliência.
Ser resiliente é ter a capacidade de enfrentar dificuldades e se recuperar, encarar desafios e seguir em frente, melhorar-se com as adversidades, ver em cada problema uma oportunidade.
Desesperar-se com finais, desestruturar-se com o medo do desconhecido, sofrer exageradamente com a partida, apesar de ser fatal em alguns momentos, não ajuda muito na administração das situações. Pelo contrário.
Administrar as próprias emoções, analisar com certa frieza o momento que se está passando, não se deixar levar pelo calor das emoções, raciocinar antes de agir e entender que tudo é passageiro - desde as coisas ruins, até as boas - fazem parte da personalidade de uma pessoa resiliente. E o melhor é que isso pode ser treinado. O ser dotado de resiliência não nasceu assim. Aprendeu a transformar o ruim em possibilidade.
Então, o convite para esse novo ano que se inicia, deixando para trás tantas coisas que pertencerão apenas a 2015, é: vamos tentar ser resilientes? Vamos ensinar as nossas crianças que chorar, fazer birra, sofrer desmesuradamente e se dilacerar não servirão para nada? Vamos explicar a elas que o luto faz parte, mas precisa ser vivido e abandonado logo depois?
E vamos fazer o mesmo? Vamos deixar aquele relacionamento que nos faz sofrer, abandonar o emprego que nada tem a ver conosco, parar de tentarmos nos encaixar num lugar que não nos cabe mais, deixar ir quem não quer ficar, permitir que nossos filhos cresçam, que nossos amores façam suas próprias escolhas? Vamos enfrentar e aprender?
Não sei se ser resiliente traz a felicidade, mas acredito que facilita muito a caminhada.