Todos os anos é a mesma coisa. Muitas crianças do meu convívio deparam com uma novidade na família: a chegada de um novo membro. E não costuma ser um membro qualquer, não. É nada mais, nada menos que um irmãozinho - ou irmãzinha, claro!
Os motivos são os mais diversos: foi sem querer, a mãe sempre desejava um casal, o pai queria muito uma parceria para o futebol, o mais velho parecia tão sozinho. Enfim, independentemente do porquê, a chegada de uma nova criança mexe com a estrutura familiar e isso não tem a ver com classe social ou vontade. A existência de um novo indivíduo causa mudanças em todas as instâncias.
As pessoas precisam se adaptar primeiro à ideia, depois esquematizam a nova rotina, criam estratégias para as diferentes situações que imaginam poder aparecer, preparam o ambiente e, aos poucos, com o crescer da barriga, aumentam os sentimentos. E eles são os mais diversos: ansiedade, medo, amor, angústia, alegria. Também cria-se uma expectativa de quem será esse novo ser.
Na maioria das vezes, pais de primeira viagem aguardam - com impaciência - para que logo aquela fofura chegue e preencha a vida deles de mamadeiras, fraldas e sorrisos desdentados. Mas quando é o segundo, muitas vezes o bebê vem com uma esperança: fazer melhor do que antes, o que pode significar ser menos aflito, mais paciente e seguro, relaxar mais, criticar menos. Para muitos pais, é uma nova chance.
Percebo que, em diversos casos, a preparação da estrutura física é muito maior do que a emocional. Talvez a maioria das famílias não tenha percebido o quanto aquele bebê vai mexer com a criança que já está lá e que, até então, por mais que diga que quer conhecer logo o mano, era filho único. Ninguém passa incólume à chegada do caçula. E muito dessa nova interação familiar se dará pela forma como os pais tratarão a situação. O filho mais velho, muitas vezes, precisa aprender a se virar de repente, pois toda a atenção que tinha deixa de ser dele. Ou o pequeno chora demais, ou é lindo demais, ou é calmo demais, ou é esfomeado demais. As visitas chegam com presentes - para o caçula, lógico. Enchem a casa de brinquedos, pegam no colo, elogiam e o maior, muitas vezes está à margem de toda a movimentação.
A desculpa de que é somente enquanto o irmãozinho é pequeno pode durar a vida inteira. E assim, o primogênito vai tentando se adaptar e buscar a atenção perdida da forma que percebe tê-la mais rapidamente - e que nem sempre é a maneira mais adequada. Mas é a que ele dispõe.
Sei que o aumento da família não deve ser decisão de uma criança. E que muitas vezes um irmão é o maior presente que um filho pode ganhar de seus pais. Porém, muito me preocupa o quanto essa família está estruturada emocionalmente para receber mais um integrante, sem que seja oneroso a alguém - principalmente se esse alguém for outra criança. Esse preparo vai muito além de possibilidades materiais.
Quantas vezes ouvimos "como podem dois filhos, criados pelos mesmos pais, da mesma forma, serem tão diferentes?". Simples. Além de haver uma questão pessoal de temperamento, nunca são os mesmos pais, porque a gente muda o tempo inteiro. Como se não bastasse, há uma questão de afinidade que não convém falar agora, mas que não há como ignorar. Seja pela semelhança ou exatamente pelo oposto, pais são seres humanos e têm mais conexão com um ou outro filho. Mas é o adulto que precisa regular essa manifestação, garantindo que haja espaço para todos. Afinal, é na família que o papel de cada um se legitima.