Quem já correu sabe: uma maratona não se resume apenas a vencer os próprios limites físicos. Para chegar inteiro ao final, uma negociação mental se estabelece desde o primeiro momento de prova, e é preciso estar bem psicologicamente para não se deixar levar pela empolgação. E, nesse ponto, concluiu o dinamarquês Jens Jakob Andersen, as mulheres costumam se sair melhor do que os homens, por serem menos "apressadas" e pensarem mais nos riscos de tomar velocidades impulsivas.
Fundador do site runrepeat.com e corredor, Andersen liderou um dos maiores estudos já feitos sobre desempenho em maratonas. Foram levantados 1.815.091 resultados em 131 provas ao redor do mundo, entre 2008 e 2014. Sabemos, de outros estudos, que, devido à genética, os homens são realmente mais rápidos. São eles, inclusive, que estão mais perto de alcançar o feito de correr os 42,195 quilômetros em menos de duas horas - o atual recordista é o queniano Dennis Kimetto, que completou a maratona de Berlim de 2014 em 2h02min57seg. Mas uma das mais curiosas conclusões da pesquisa é que elas correm melhor do que eles em termos de ritmo constante. Explicando em números: comparando a segunda metade da prova (depois de 20 quilômetros) com a primeira, homens reduzem a velocidade 18,61% mais do que as mulheres. Ainda que tanto eles quanto elas reduzam a velocidade na segunda parte, são elas que se aproximam mais de um pace (quantidade de tempo para completar cada quilômetro) "estável".
Conforme escreveu Andersen em um artigo de opinião no portal de esportes Kawowo, uma das razões pode ser o fato de que homens tendem a tomar mais riscos para si do que as mulheres, como forma de alimentar seus egos. Disse ainda, em entrevista ao The Washington Post, que "nós (homens) tendemos a ter uma ideia não realista de quão bom somos". As mulheres, segundo o dinamarquês, seriam menos confiantes no próprio potencial e, por isso mesmo, mais cuidadosas.
Mas Andersen chegou a uma conclusão ainda mais relevante: nós, corredores amadores, temos muito a aprender com os atletas de elite sobre pace de prova. Os 10 melhores maratonistas do mundo conseguem manter uma variação de cerca de 0,1% no ritmo de prova. Por isso, ele aconselha que, para que as corridas nos proporcionem mais sucesso, e consequentemente mais bem-estar e saúde, devemos treinar mais o pace.
Além disso, ele repassa cinco dicas que parecem simples, mas, como o estudo comprovou, são bastante esquecidas:
1) Comece mais lento do que te pareça natural
2) Dessa forma, você não se empolga pelo ritmo da multidão
3) Corra o seu próprio pace e tente não competir com os outros
4) Se você não pode manter seu ritmo planejado, diminua imediatamente, em vez de chegar ao ponto de "quebrar" mais tarde na corrida
5) Grande parte de treinamento deve ser composta de corridas fáceis no seu ritmo de maratona planejado. Dessa forma, aprende a lidar com as respostas do seu corpo ao ritmo estabelecido