O bailarino Mariano Neto, 35 anos, sempre sonhou em subir ao altar e casar. Mas a necessidade de se dedicar ao trabalho e conquistar a independência financeira adiaram esse desejo por algum tempo. Natural de Natal (RN), ele decidiu se mudar para o sul do país quando tinha 22 anos, e foram precisos alguns anos para se dedicar exclusivamente à formação de bailarino, a dar aulas e a ensaiar espetáculos. A vida social, nesse período, ficou em segundo plano.
O mesmo ocorreu com o médico Gustavo Augusti que, aos 18 anos, saiu da casa dos pais, em Santa Maria, para fazer faculdade. Aos 22, se mudou a Porto Alegre para seguir a formação e começar a trabalhar.
- Até os 25 anos, pelo menos, eu estava mais focado na minha carreira, na formação profissional e na minha independência financeira. Somente depois que conquistei isso é que passei a sair mais, conhecer pessoas novas.
Brasileiro estão casando cada vez mais tarde
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O padrão de comportamento dos dois jovens é, segundo o psicanalista Carlos Kessler, professor do Instituto de Psicologia da UFRGS e diretor da clínica de Atendimento Psicológico da universidade, um dos motivos que têm levado os brasileiros a casar cada vez mais tarde. Conforme Kessler, desde meados do século passado começou a configurar-se uma tendência nas populações, principalmente de grandes centros urbanos: os indivíduos estão mais preocupados em concretizar seus interesses e projetos profissionais do que se dedicar ao outro, a estabelecer laços afetivos:
- Outro reflexo importante da urbanização é que as pessoas tendem a ficar mais sozinhas, e acabam se adaptando a esta condição. Por isso, vemos muitos casais se formando depois dos 30 anos.
Para Gustavo e Mariano, o encontro - e o início da primeira relação séria que ambos viriam a ter - ocorreu quando o médico completava 28 anos, e o bailarino, 30. Após conversarem nos bastidores de um espetáculo de dança, os dois, já estabelecidos financeiramente e morando sozinhos na Capital, começaram a namorar. Diferentemente de muitos casais que preferem morar juntos por um longo tempo para depois oficializar a união, com eles o processo foi mais rápido.
- Em pouco tempo quis formalizar a união, pois sempre foi um sonho de ambos. Por mais que já tivéssemos uma relação sólida, sentimos que este passo era importante. Pedir o Mariano em casamento foi uma forma de dizer que ele era a pessoa certa pra mim - conta Gustavo.
Casamento ficou para mais tarde, mas taxa de uniões continua crescendo no país
Para o psicanalista Kessler, ainda que o significado tradicional do casamento tenha se alterado ao longo dos anos, a formalização da união segue carregada de uma simbologia importante na sociedade, e reflete um conflito entre o apelo pela novidade e o resquício das tradições:
- Nas últimas décadas, tem ocorrido uma reconfiguração de costumes e crenças. Existe uma tendência a acompanhar o que é novo nas sociedades urbanas, mas a manter as tradições ainda vivas.
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É o que reflete também a pesquisa Estatísticas do Registro Civil do IBGE. Os brasileiros estão formalizando as uniões mais tarde, mas a taxa de registros de casamento vem crescendo.
- Esta tendência é decorrente de diversas mudanças que vem ocorrendo nos padrões de composição dos arranjos conjugais e familiares, tais como as facilidades legais e administrativas para a obtenção de divórcio - explica o analista técnico do IBGE, Ennio Melo.
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