Amizade é considerada uma relação íntima e complexa, que necessita de diversos aparatos emocionais para ser vivenciada de forma saudável e benéfica. E apesar de a vivenciarmos desde a mais tenra idade, é um tipo de relacionamento interpessoal que necessita ser sentido com profundidade, ser praticado, para que a partir dele se aprenda a lidar com o outro e a respeitar o diferente. Mas como conseguir isso em uma cultura cujas famílias estão cada vez menores e muito da educação encontra-se terceirizado?
Resposta: por meio de ambientes que proporcionem a convivência em grupo. As escolas são um excelente exemplo disso. Crianças possuem um raciocínio diferente do adulto. Pensam e sentem de maneira distinta, portanto, mesmo que haja contato intenso com familiares adultos, nada substitui a convivência entre seus pares. Criança precisa de criança! É a convivência entre semelhantes que proporciona aos pequenos a compreensão de regras, a inserção em grupos, a identificação, a autonomia, a solidariedade, o reconhecimento das emoções do outro, a tolerância à frustração, a partilha, a cooperação e o respeito, entre tantas outras aprendizagens práticas, que incitam a inteligência emocional - imprescindível para uma vida adulta feliz.
Porém, não é raro que pais acabem se aproximando pela convivência entre os filhos, e isso, embora muitas vezes seja benéfico, em tantas outras atrapalha a relação entre as crianças, tendo em vista que os pais reagem de forma diferente em caso de desentendimento entre seus rebentos.
Quando surgem conflitos, cabe ao adulto apenas estimular a resolução rápida e tranquila do embate. Não é ele que resolve, ele apenas medeia. O ressentimento e a mágoa dos adultos são bem mais duradouros e não raras são as situações em que as crianças brigam e voltam a brincar no dia seguinte e suas famílias deixam de se falar pelo resto do ano. E pior! Muitas vezes tentam - e conseguem - atrapalhar a amizade das crianças.
Por isso, costumo dizer que os pais reaprendem o significado da amizade e da maturidade ao vivenciarem as amizades de seus filhos. Não podemos esquecer que nós, adultos, devemos estar vigilantes e acolher as crianças sempre que precisarem, estimulando-as a enfrentar as contrariedades da vida em grupo, mas nosso papel é apenas esse. Solucionarmos seus problemas acaba por colocá-las no confortável papel de coadjuvantes dos acontecimentos. E isso está longe de ser amor. É excesso de proteção.