Primeiro foi sobre o assassinato dos cartunistas franceses. Depois sobre o anti-islamismo. Depois sobre a política antidrogas, a execução do brasileiro na Indonésia, a soberania de um país, leis mais duras pra combater os crimes. E, se você for masoquista, pode ler os comentários de qualquer notícia, coluna ou vídeo na internet e vai chegar a essa conclusão: a eleição não acabou.
Qualquer pessoa que se coloque a favor dos direitos humanos é petralha. Qualquer pessoa que defenda uma linha dura de combate aos crimes é tucano coxinha. E, às vezes, são as acusações mais aleatórias. Você pode ser chamado de petralha ou coxinha por qualquer declaração, dependendo de como a pessoa leu. Você pode ser a pessoa mais moderada e ainda assim vai ser jogado pra algum lado - provavelmente o lado contrário. E provavelmente com muitos erros de português.
Já cansei de encontrar pessoalmente gente que me chamou de petralha ou de coxinha na internet. Ao vivo são superamáveis, tira uma foto comigo, adoro seu trabalho só não concordei muito com aquela sua opinião. Ou mesmo quando respondo a um e-mail raivoso, ele sempre volta mansinho, não tinha pensado por esse lado, acredito que ambos estamos certos grande abraço te admiro muito. Ou seja, quando ninguém está olhando somos humanos. Quando estamos disputando curtidas viramos bicho.
No ambiente da internet, todo mundo tem um microfone e fala ao mesmo tempo. E em um ambiente barulhento, pra conseguir aparecer, é necessário contundência. Não basta ter opinião, é preciso gritar. E quem grita mais alto tem mais seguidores, uma multidão virtual cega que grita em coro o que acredita e, às vezes, até o que não acredita. A ironia é que a agressão mais comum é "vá se informar" ou "leia a respeito", mas ninguém está lendo a respeito. Ou, quando lê, é a opinião de alguém que pensa exatamente como ele, o que meio que anula a tentativa de evoluir a discussão.
O resultado das eleições foi tão apertado, que quem perdeu ainda acha que dá pra ganhar, quem ganhou ainda acha que dá pra perder. E, nessa eleição interminável, o bom senso e a ponderação não foram pro segundo turno.
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Marcos Piangers: a eleição não acabou
Colunista escreve às sextas-feiras em ZH
Marcos Piangers
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