Quando coloquei televisão, móveis novos e ar-condicionado no quarto das meninas, não foi pensando nelas, mas em mim mesmo. Esse é um dos meus planos de guerra. A única razão de deixar o quarto delas mais bonito e habitável é que eu não aguento mais que elas durmam na minha cama.
Tenho convicção de que é uma revolta combinada.
Para cada vez que as obrigo a tomar banho ou a comer brócolis, elas preparam a vingança para o meio da noite. Perto da meia-noite, entram sorrateiras no quarto e começam a tortura.
Na revoltosa mais nova, de um ano, percebo o padrão de dormir atravessada na cama, com um de nossos travesseiros embaixo dela. Dessa forma, ela consegue dar chutes em mim ao mesmo tempo que dá cabeçadas na minha mulher. A mais velha, de oito anos, gosta muito de dormir abraçada na gente. Então, enquanto levo chutes na cara de uma, a outra está me imobilizando. É, sem dúvida, um trabalho em equipe muito bem feito.
Minha primeira estratégia de resistência depois das sistemáticas invasões ao meu colchão foi comprar uma cama maior. Encomendamos uma sob medida que ocupa praticamente meu quarto todo. "Isso deve resolver", eu pensei, ingênuo. Mas as invasoras de colchão não se contentam em apenas dormir na sua cama. Elas também querem dormir do seu lado da cama. Então, não importa o tamanho da cama, inevitavelmente no meio da madrugada elas vão estar com um pé na sua cara e um cotovelo no seu estômago.
Já tentei a estratégia "dormir na cama delas para que pensem que a cama delas é a minha cama e passem a dormir sempre lá". Não funcionou porque elas me espancavam na cama delas. E, na minha cama, me seguindo no meio da noite. Já tentei a "trincheira de travesseiros" me separando delas durante a noite, mas elas rompiam a barreira. Já tentei a estratégia dos móveis novos e da TV no quarto delas. Nada parece estar dando certo.
Estou pensando em liberá-las do banho e do brócolis. Será minha última atitude antes da rendição total.