O Rio Grande do Sul já confirmou 17 óbitos por dengue em 2024 e, desses casos, apenas três pacientes não possuíam comorbidades, ou seja, não tinham doenças preexistentes. Isso significa que 82,35% das vítimas já conviviam com alguma doença, como hipertensão, diabetes entre outras.
Conforme a bióloga Valeska Lizzi Lagranha, especialista em Saúde, do Programa de Arboviroses do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), a dengue desregula o organismo, deixando o paciente mais suscetível ao agravamento das doenças preexistentes. E isso pode levar ao óbito.
— Quando o indivíduo com comorbidade se infecta com o vírus da dengue, ele descompensa essa comorbidade. Um paciente que tem uma pressão alta, por mais que ele esteja tomando uma medicação para o controle da pressão, essa pressão descompensa — explica.
Outra característica comum entre as pessoas que morreram em decorrência da dengue no RS em 2024 é a idade elevada. De acordo com os dados disponibilizados pela Secretaria do Estado de Saúde do RS (SES), nove das 17 mortes, ou seja, mais da metade, registradas foram de pessoas com idade entre 70 e 79 anos.
Apesar de neste ano ainda não ter havido nenhuma ocorrência, a segunda faixa etária que mais morreu pela doença no RS é a das pessoas com 80 anos ou mais. Perfil que destoa um pouco do nacional, quando comparado o mesmo período de dados disponibilizado pela SES – 2015 a 2024. Conforme o DataSUS, a maioria (23,62%) das vítimas fatais da doença no Brasil possuía idade entre 40 e 59 anos.
Questionada sobre essa diferença do perfil dos óbitos, Valeska explica que o RS possui uma grande população de idosos, composta em maioria por pessoas com comorbidades. Além disso, ela relata que existem muitos casos em que o paciente não faz o tratamento adequado das doenças preexistentes, o que facilita para que o quadro de saúde se agrave.
Busca por atendimento médico
Outra característica em comum dos óbitos por dengue registrados neste ano no RS é o tempo que os pacientes levaram para buscar auxílio médico. Valeska detalha que, em média, as vítimas levaram cerca de três dias, após o surgimento dos sintomas, para ir atrás de atendimento em alguma unidade de saúde, chegando já na fase crítica da doença. Em alguns casos, a pessoa chegou a esperar mais de cinco dias para buscar ajuda.
— A gente nota, às vezes, que o paciente começa com sintoma hoje e em quatro, cinco dias ele já vem a óbito. Isso porque o agravamento da dengue é rápido — explica a especialista em Saúde, do Programa de Arboviroses do CEVS.
Alguns sinais de alerta da fase crítica da dengue são:
- Fortes e persistentes dores abdominais
- Sangramento de gengiva e nariz
- Vômito persistente
- Queda de pressão (tontura ao se levantar)
Conforme Valeska, a maioria dos pacientes que morreram por dengue no Estado relatou fortes dores abdominais.
A especialista também relatou outra situação em comum entre as vítimas fatais que chama a atenção, a frequência com que o paciente busca ajuda médica. De acordo com as informações obtidas em prontuários médicos e com os familiares, em média, as pessoas buscaram mais de uma vez atendimento médico. Em um dos casos, a vítima chegou a ir quatro vezes a alguma unidade de saúde até ser identificada a doença.
— A rede de atenção, tanto privada quanto pública, os médicos e as enfermeiras que fazem a triagem, algumas vezes, não suspeitam de dengue. Se o paciente, por exemplo, é cardíaco, e fala que está com uma dor abdominal, já se associa com a doença preexistente. Se faz um eletrocardiograma e libera o paciente, sem pensar em dengue, por exemplo — detalha.
Localização dos óbitos
Conforme a divisão da SES-RS, a área de Caminho das Águas, que compreende Frederico Westphalen e outros municípios do norte do RS, foi a mais atingida neste ano. Seis dos 17 óbitos deste ano foram de moradores da região. O dado de 2024 já supera o total de registros fatais dos últimos nove anos em Caminho das Águas. Até então, tinham sido registradas apenas três óbitos na região.
A especialista em saúde explica que, dentro da epidemiologia, quando uma região é muito afetada por um vírus em um ano, a tendência é que no ano seguinte sejam registrados menos casos. Isso se deve à imunidade que as pessoas que tiveram a doença desenvolvem.
Ela explica que ao ser infectado por um tipo de sorologia de dengue, o paciente passa a ficar imune àquele vírus. Até o momento, existem quatro tipos de dengue identificadas, sendo que no RS já foram registradas a circulação de dois. E é devido a existência de dois tipos de vírus no Estado que algumas regiões que tiveram muitos casos em 2023 seguem com números altos neste ano.
Vítimas fatais da dengue no RS em 2024
Até o fechamento desta matéria, na segunda-feira (11), o governo do RS divulgou 17 óbitos pela dengue em 2024. A primeira morte foi registrada no final do mês de janeiro e teve confirmada oficialmente a causa no início de fevereiro. Em 2023, o primeiro óbito por dengue no Estado ocorreu no dia 15 de março.
Confira lista de registros:
- 31/1/2024 - Tenente Portela: Mulher, 71 anos, com comorbidade
- 1/2/2024 - Santa Cruz do Sul: Homem, 65 anos, com comorbidade
- 02/2/2024 - Santa Rosa: Mulher, 71 anos, com comorbidade
- 15/2/2024 - Cruz Alta: Homem, 63 anos, com comorbidade
- 15/2/2024 - Tenente Portela: Mulher, 64 anos, com comorbidade
- 16/2/2024 - Tenente Portela: Mulher, 75 anos, com comorbidade
- 19/2/2024 - Canoas: Homem, 59 anos, com comorbidade
- 21/2/2024 - Lajeado: Homem, 76 anos, com comorbidade
- 22/2/2024 - Cerro Largo: Mulher, 67 anos, com comorbidade
- 22/2/2024 - Araricá: Homem, 33 anos, sem comorbidade
- 23/2/2024 - Novo Hamburgo: Homem, 69 anos, com comorbidade
- 23/2/2024 - Frederico Westphalen: Mulher, 79 anos, com comorbidade
- 24/2/2024 - Independência: Mulher, 71 anos, com comorbidade
- 28/2/2024 - Frederico Westphalen: Mulher, 26 anos, sem comorbidade
- 1/3/2024 - Giruá: Homem, 72 anos, sem comorbidade
- 3/3/2024 - Vista Gaúcha: Homem, 71 anos, com comorbidade
- 4/3/2024 - Santa Rosa: Homem, 75 anos, com comorbidade