Um estudo divulgado na manhã desta quinta-feira (15) no auditório do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, revelou um problema de saúde pública preocupante no Rio Grande do Sul. A região metropolitana de Porto Alegre enfrenta uma epidemia generalizada de HIV/aids, com aproximadamente 1,64% dos habitantes convivendo com o vírus. No interior do Estado, a taxa de infectados cai para 0,50%.
De acordo com o Organização Mundial da Saúde (OMS), quando a prevalência de pessoas vivendo com HIV na população é inferior a 1%, isso indica que a epidemia está concentrada, ainda dentro de determinados grupos populacionais, tais como homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. No entanto, quando a taxa ultrapassa esse limite, aponta que a transmissão já está sustentada na população em geral, caracterizando uma epidemia generalizada.
O estudo Atitude, desenvolvido pelo Hospital Moinhos de Vento por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), mapeou o comportamento, as práticas e as atitudes da população em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Os dados foram coletados em 56 municípios, entre eles, Porto Alegre e Região Metropolitana, além de Pelotas, Capão do Leão e Santa Cruz do Sul. Foram ouvidas 8.006 pessoas no Estado, além de coleta de sangue de cada um dos participantes, entre 2020 e 2022.
— Esses números, dados de HIV, são os maiores que a gente tem descritos na América Latina — afirma Eliana Wendland, epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento e líder do estudo Atitude.
Segundo ela, até o momento se pensava, considerando o país como um todo, que o Brasil tinha uma epidemia de HIV concentrada, o que agora muda:
— Agora se sabe que, na verdade, a gente já tem aqui na Região Metropolitana uma epidemia generalizada na população.
Uso de preservativo
A pesquisa também revelou um baixo índice no uso de preservativos nas relações sexuais. Segundo os pesquisadores, a população sabe onde conseguir camisinha — apenas 10% respondeu que não —, mas a decisão de usar ou não é uma escolha e não falta de conhecimento. Quatro em cada 10 pessoas responderam que não usaram preservativo no último ano em relações casuais, como destaca a chefe da Divisão de Unidades Próprias da Secretaria Estadual da Saúde, Maria Letícia Ikeda.
— Menos de 30% das pessoas usaram preservativo na última relação. E isso é importante porque o preservativo ainda é a nossa principal ferramenta da prevenção ao HIV e outras ISTs — diz Maria Letícia.
O baixo uso de preservativo preocupa. Segundo a chefe da Divisão de Unidades Próprias da Secretaria Estadual da Saúde, é um dado que explica muito do que se vê nos dados epidemiológicos.
— Se só 30% das pessoas usam preservativo e nós temos uma alta prevalência na região, ou seja, a gente tem muita circulação de vírus na região, nós vamos ter uma epidemia sustentada em patamares elevados por muito tempo se não fizermos alguma coisa a respeito disso —destaca Maria Letícia Ikeda.
Além disso, o estudo revelou uma alta prevalência de sífilis em todas as regiões do Estado. Segundo a pesquisa, cerca de 7% da população do Rio Grande do Sul apresenta sífilis ativa, sendo 6,47% na Região Metropolitana e 6,69% no Interior.