Após passar por uma laparotomia de emergência, o papa Francisco, 86 anos, deve ficar hospitalizado por vários dias, a partir desta quarta-feira (7), em Roma. A operação durou três horas e não houve complicações. O procedimento cirúrgico consiste em abrir o abdômen, sob anestesia geral, para correção de uma hérnia incisional. Segundo o diretor do serviço de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, o sumo pontífice teve um agravamento dos sintomas causados pelo problema de saúde, como síndromes suboclusivas recorrentes e dolorosas.
Antonio Carlos Weston, chefe do Serviço de Cirurgia Geral da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, explica que hérnia é o rompimento de um ponto da parede muscular do abdômen. Se chama hérnia incisional quando a ruptura ocorre em uma incisão prévia, ou seja, no corte de uma cirurgia que o paciente fez anteriormente.
— Como é uma ruptura, todos os órgãos e a gordura que estão dentro do abdômen, mas principalmente o intestino, acabam se projetando através desse espaço. E quando o intestino se projeta pode causar pontos de obstrução, que dificultam a passagem de líquido, gases e fezes. Todo esse quadro pode ocasionar síndromes suboclusivas, que ocorrem quando a obstrução é parcial — afirma, destacando que a obstrução parcial pode evoluir para uma completa, que configura um quadro de maior urgência.
Para Guilherme Pesce, coordenador Serviço de Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo do Hospital Mãe de Deus, a cirurgia do papa provavelmente foi motivada por um quadro de suboclusão intestinal. O especialista acrescenta que sempre que se tem histórico de cirurgia anterior há possibilidade de ocorrer uma hérnia e lembra que, em julho de 2021, Francisco precisou passar por uma operação, na qual teve parte do cólon removida:
— Em cerca de 20% das cirurgias abdominais acontecem essas hérnias incisionais. E sempre que se faz uma cirurgia aberta (laparotomia) tem esse risco aumentado. Idade avançada, histórico de procedimento cirúrgico, obesidade e tabagismo também são fatores de risco para o desenvolvimento de hérnia incisional.
Entre os outros sintomas causados pelo problema de saúde, Pesce cita cólica de forte intensidade, distensão abdominal e vômito. O diagnóstico da hérnia e da suboclusão costuma ser feito por exames de imagem.
Conforme os especialistas, a cirurgia de laparotomia é um procedimento cirúrgico feito por meio de um corte na região abdominal e, no caso do papa, tem como objetivo corrigir a hérnia incisional. Essa correção consiste no fechamento da ruptura do músculo, a partir de pontos, seguida da colocação de uma prótese, uma tela feita de material sintético. Weston esclarece que a tela funciona como um reforço da parede abdominal, tendo como objetivo evitar que uma nova hérnia surja no local.
Já a anestesia geral é utilizada em função da complexidade da cirurgia, que costuma ser longa, aponta Pesce.
— Um paciente com a idade dele enfrenta riscos ao ser submetido a anestesia geral. É uma cirurgia que prevê vários dias de internação, porque é um corte grande, manipula muito o intestino e tem uma recuperação mais longa, principalmente para um paciente idoso. O intestino precisa voltar a funcionar, a pessoa tem que poder voltar a se alimentar e isso demora às vezes — comenta o especialista do Hospital Mãe de Deus.
Em relação aos riscos do procedimento em geral, Weston aponta a infecção como o mais comum, podendo ocorrer devido a um possível rompimento do intestino, como decorrência da evolução da hérnia.
— Em virtude da idade, temos que considerar mais os riscos cardiológicos, como infarto, mas depende muito se o paciente tem ou não doença cardiológica prévia, além de embolia pulmonar — complementa o chefe do Serviço de Cirurgia Geral da Santa Casa.