Um grupo de 15 crianças e jovens conversa animadamente e desenha na sala de espera de uma clínica odontológica, na zona norte de Porto Alegre. É uma manhã de sábado, e Thylon Andriel Domingues, 6 anos, é um dos mais empolgados rabiscando palavras em uma folha de papel. A turma veio em uma van da Ilha do Pavão para receber atendimento odontológico em um projeto de dentistas voluntários. Depois de alguns desenhos presos no mural improvisado no balcão, Thylon escuta seu nome e entra para ser atendido em um dos consultórios.
A ação faz parte do projeto Sorrir com Amor, do Instituto Dia do Amor, uma ONG de Porto Alegre voltada a ajudar crianças, jovens e famílias de baixa renda. A iniciativa convida profissionais e empresas a fornecer materiais e tratamento odontológico, principalmente para comunidades que não conseguem ter acesso, como é o caso dos moradores da Ilha do Pavão, que estão sem unidade de saúde na região há dois anos. A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS) afirma que o fechamento ocorreu porque o local era alugado e prevê a reabertura de uma nova unidade no mês de outubro.
Sentado na cadeira das dentistas, Thylon mostra os dois dentes de leite que estão escuros e começa receber o atendimento. A mãe dele, Alexandra Lemos, 28 anos, conta que os “pretinhos” que escondem o branco dos dentes da frente já estão ali há anos.
— No dentista mesmo, ele só foi depois de grande. Já tinha uns quatro anos. Eles só olharam (no posto de saúde) e falaram que era pra esperar até os sete anos, se não caísse (o dente) era pra levar de novo — conta a dona de casa.
Ortodontista e secretária do Instituto Dia do Amor, Maitê Cauduro Lemanski, 27 anos, explica que a cárie foi o diagnóstico mais encontrado durante os atendimentos do projeto.
— A maior parte das 15 crianças tinha cárie. Algumas tinham várias. No caso do Thylon, os dentes de leite estavam impedindo o nascimento dos permanentes e precisavam ser tirados para ontem, então foi muito importante o atendimento dele.
De volta à sala de espera, Thylon é recebido como uma celebridade pelas outras crianças e mostra seu novo sorriso.
— Tá bonito! — diz o menino.
Perto dali, a dona de casa Irene Soares Salvado, 53 anos, também sai satisfeita após o filho de 11 anos realizar a primeira consulta em um dentista. O garoto terá que fazer quatro tratamentos de canal e será acompanhado pelo grupo de voluntários.
— É uma briga para escovar o dente. É só uma vez de manhã — comenta.
Diante da alta demanda por atendimentos para quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS), como a fila de tratamento de canal que chega a quase quatro anos de espera em Porto Alegre, a dentista voluntária Carla Soviero, 61 anos, que também atua na emergência de um hospital, observa que é preciso entender as necessidades de cada comunidade para mobilizar uma busca ativa que ajude os moradores a prevenirem problemas odontológicos e a terem maior cuidado com a higiene bucal.
— Acredito que é importante, além da melhoria da gestão, uma análise de cada comunidade. Os problemas não são os mesmos. Não dá para ter uma receita de bolo que vai resolver. A gente só consegue fazer o que está nas nossas mãos. Começa com pequenas mudanças, ir à consulta, retornar. Não consigo enxergar uma melhoria muito grande sem a participação do usuário e dos profissionais que atendem na ponta — avalia.
Ajuda
O Instituto Dia do Amor está em busca de parceiros para custeio dos materiais odontológicos e para dar andamento nos tratamentos. Há dentistas voluntários que decidiram apadrinhar algumas crianças e jovens para fornecer procedimentos que não são contemplados no SUS, como aparelho ortodôntico, por exemplo. A ideia da entidade é focar na saúde como ponto inicial, para que os assistidos possam ter condições e conseguir sair da situação de vulnerabilidade social.
Para saber mais sobre o trabalho da ONG, basta acessar o perfil no Instagram @institutodiadoamor.