O tempo médio de internação por coronavírus de pacientes que receberam alta caiu 43% em janeiro no Rio Grande do Sul no comparativo com março do ano passado, pior momento da pandemia em solo gaúcho, mostram dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). A espera para receber alta é, também, a menor de toda a pandemia.
Em março de 2021, quando a variante Delta colapsou hospitais, um paciente levava em média sete dias para receber alta. Neste mês de janeiro, em meio à escalada da Ômicron, a média caiu para quatro dias. Os dados levam em conta internações em leitos clínicos (casos graves) e em Unidades de Terapia Intensiva (UTI, para casos gravíssimos).
Há duas grandes diferenças entre os períodos, destacam analistas: a grande cobertura vacinal atualmente e o predomínio de variantes distintas nas duas ondas.
Em março do ano passado, somente 3% dos gaúchos tinham duas doses. Agora, em janeiro de 2022, o Rio Grande do Sul contava com mais de 72% de toda a população com duas doses e 25% com três – os dados recentes são parciais, devido aos ataques hackers ao Ministério da Saúde.
Além disso, em março de 2021 o Brasil era assolado pela cepa Delta, menos transmissível e mais letal. Agora, a onda é causada pela variante Ômicron, que é menos perigosa, sobretudo para quem está vacinado.
— O fato de estarmos com a maior parte da população vacinada certamente tem resposta para a evolução do quadro clínico de forma mais branda. As pessoas estão vacinadas, têm uma resposta imune e isso contribui para uma sintomatologia mais branda. A vacina é um ponto fundamental — destaca Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde.
Diversos estudos apontam que indivíduos vacinados permanecem menos tempo no hospital porque a vacina estimula a resposta imunológica – ao ensinar o organismo a se proteger contra o Sars-Cov-2, contribui para reduzir o impacto da doença no corpo, encurtando o tempo de internação. Em São Paulo, o tempo de internação médio foi de 11 para seis dias, segundo dados do governo paulista noticiados pelo jornal Folha de S.Paulo.
Hospitais da Capital percebem a mudança
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que recebe pacientes gravíssimos por coronavírus, o tempo médio de internação caiu de 33 dias em março do ano passado para 11 dias entre janeiro e fevereiro deste ano.
— Nossa percepção é de que temos lidado com pacientes que internam por outras patologias e que estão na ala covid porque testamos e o resultado deu positivo. Não temos atendido muitas pessoas com falência respiratória, que precisem de suporte respiratório. É difícil estimar o impacto da Ômicron sem vacinação porque a população vacinada é grande — comenta a médica epidemiologista Jeruza Neyeloff, assessora da diretoria médica do Hospital de Clínicas.
No Hospital Conceição, a queda foi grande também. Em março de 2021, o tempo de espera para receber alta era de, em média, 20 dias. Em janeiro deste ano, a média caiu para seis dias. Nas UTIs, o tempo de internação passou de 15,5 dias para 8,9 dias. Nos leitos clínicos, de nove dias para seis. Se em março foram 566 internados, em janeiro foram 236.
— Mesmo que as pessoas tenham alguma comorbidade, a vacina traz um atenuante: faz o sistema imunológico se tornar mais reativo quando houver presença da doença. O vacinado tem uma ativação mais acelerada do sistema imunológico, adquire uma memória de como combater essa doença — sintetiza a médica epidemiologista do Hospital Conceição, Ivana Varella.
No Hospital Moinhos de Vento, a queda no tempo em UTIs foi de 24 dias em março do ano passado para 11,5 dias em janeiro, mas a instituição destaca que quase metade dos pacientes do mês passado ainda não teve alta.
Início de desaceleração
Como mostrou GZH, a atual onda de covid-19 passa por desaceleração no Rio Grande do Sul. Nesta segunda-feira (7), havia 1.303 internados com a doença em leitos clínicos, quarto dia consecutivo de queda. Em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), eram 577, primeiro dia de queda.
Dados de outros países indicam que a onda gerada pela Ômicron causa um pico de casos maior e mais rápido, já que é mais transmissível e alcança maior parcela da população rapidamente.
— Parece que estamos entrando em uma situação de estabilidade, mas é precoce dizer que já passou. Precisamos aguardar duas semanas epidemiológicas para de fato dizer que há estabilidade. Nos parece isso, mas não podemos afirmar — diz Tani Ranieri, porta-voz da Secretaria Estadual da Saúde.