Um levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), divulgado na quarta-feira (17), indicou que quase metade das 938,5 mil pessoas que está com a segunda dose da vacina contra covid-19 atrasada no Rio Grande do Sul são jovens entre 18 e 29 anos. Para o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência, uma possível forma de solucionar esse problema seria aproximar a vacinação de ambientes como escolas de Ensino Médio e universidades.
— A nossa geração recebia vacinação no colégio. E eu acho que isso se perdeu e seria uma das coisas importantes [para combater o vírus], assim como a questão que deveria ser mais discutida de reforçar o passaporte vacinal para o próximo ano. Nós precisaríamos de mais adesão — afirmou Spilki em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, desta quinta-feira (18).
O virologista usa como exemplo os Estados Unidos onde, de acordo com ele, a vacinação se iniciou em ambientes acadêmicos e era realizada nesses espaços devido ao público presente que, por conta da idade, se preocupa menos.
— A gente talvez precisasse, no caso dos jovens, ter medidas mais efetivas, principalmente no ambiente das universidades e do Ensino Médio — opina Spilki.
Durante a conversa, o pesquisador reforçou que uma das possíveis causas para jovens terem menos medo da doença é justamente por serem minoria nos casos de agravamento dos quadros e não sentirem o impacto em sua faixa etária. Entretanto, segundo Spilki, isso faz com que essa população seja mais suscetível à propagação do vírus.
— O que a gente viu, por exemplo, tanto aqui quanto em outros países, foi que essa população é muito menos atingida com gravidade, mas em diversos locais ela foi o motor inicial, aquele gás que o vírus precisava para se multiplicar em grande quantidade e gerar surtos [...] É uma população que, mesmo não tanto atingida pessoalmente pela doença, seria muito importante estrategicamente no controle para evitar novas elevações.
Spilki relembra o ápice da pandemia no Rio Grande no Sul, nos meses iniciais de 2021, que, segundo ele, pode ser explicada a partir dos encontros que aconteceram no verão, como o Carnaval. Segundo dados da SES, em março de 2021, 233 mil novos casos e 8.448 óbitos foram registrados.
Conforme o acompanhamento vacinal feito pelo Governo do Estado, 65,7% da população total residente no RS está com o esquema completo. De acordo com a SES, está sendo finalizada uma pesquisa em parceria com o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/RS) para entender as razões de quem não completa o esquema vacinal.
— Quem ocupa leitos é quem não tá vacinado. Foi decidido por um reforço vacinal, para população adulta, que de qualquer maneira teria de acontecer a partir de meados do ano que vem, pois há uma queda de proteção ao longo do tempo. É esse tipo de janela que tem que ser cuidado, que a gente tem que evitar e continuar protegendo a população para poder ir realizando a abertura. Mas, efetivamente, o que a gente tem muito medo é a questão de surto de não vacinados, que pode dar motor para outros fenômenos, como mutações — conclui.
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