O alerta emitido pelo governo do Estado para a região de Pelotas nesta semana tem como desafio frear uma recente escalada na quantidade de internações por covid-19 e ampliar a adesão da população às vacinas – principalmente entre os idosos com mais de 70 anos aptos a receber a dose de reforço.
Desde o começo de outubro, conforme indicam dados do Boletim Regional do Comitê de Dados do Piratini, o acumulado semanal de novas internações por covid-19 em leitos clínicos e de terapia intensiva (UTI) disparou e cresceu quase sete vezes. Eram 12 novas hospitalizações no início do mês passado, e chegaram a 79 nos sete dias anteriores a essa sexta-feira (12).
Como resultado desse agravamento, a quantidade de óbitos provocados pelo coronavírus em uma semana, que havia ficado em apenas quatro no começo do mês anterior, nesta quinta estava em 21. Quando se analisa essa cifra por cem mil habitantes, para permitir uma comparação com o restante do Rio Grande do Sul, o resultado é um índice de 2,4 mortes semanais por cem mil moradores dessa região contra uma média estadual de 1,6 – ou seja, uma taxa de mortalidade 50% maior (veja mais detalhes no infográfico abaixo).
Secretária de Saúde de Pelotas, município de referência que dá nome à zona analisada, Roberta Paganini avalia que os municípios próximos enfrentam atualmente um cenário de maior impacto pelo qual outras partes do Estado passaram há mais tempo, como a Região Metropolitana:
— Percebemos, ao longo da pandemia, que as situações sempre chegam com algum delay por aqui. O agravamento que já se viu nas regiões Metropolitana e Serra está chegando agora para nós. Identificamos a variante delta circulando em amostras coletadas em setembro. Isso, atrelado a um certo descuido das pessoas com medidas como uso de máscara e higienização, está levando a esse aumento de casos.
A secretária observa ainda que muitas pessoas estariam encarando sintomas de covid como se fossem de resfriado ou uma simples alergia, por considerar de forma equivocada que a pandemia já teria se encerrado.
— Percebemos que muitas pessoas consideram que é uma gripe, uma rinite, não fazem o isolamento adequado e acabam contaminando mais gente — sustenta a secretária.
Há outro fator que pode estar por trás dessa escalada de internações no sul do Estado. O coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Saúde do Piratini, Pedro Zuanazzi, observa que a região de Pelotas vem apresentando índices inferiores à média estadual na adesão à campanha de vacinação contra a covid-19. Esse fenômeno é observado principalmente em relação à dose de reforço prevista para os idosos acima de 70 anos.
— Além da piora em indicadores como aumento na demanda por UTIs e leitos clínicos, a região é última colocada no Estado no quesito de população de 70 anos ou mais com dose de reforço, e bem abaixo da segunda colocada — observa Zuanazzi.
Apenas 27,5% desse grupo recebeu a aplicação adicional, contra uma média estadual de 45,10%. A zona de Bagé, que tem o segundo pior desempenho, já fica em situação bem menos desconfortável, com 35,1% de adesão. A secretária de saúde de Pelotas afirma que a cidade já está adotando medidas como reforço na busca ativa de pessoas que ainda devem se vacinar e na orientação para que pessoas com sintomas compatíveis com covid procurem atendimento adequado e reduzam o risco de passar a infecção adiante.
Entre as ações que a região vai colocar em prática para tentar conter o coronavírus estão a realização de busca ativa (tanto para doses de vacina quanto para rastreamento de pessoas que tiveram contato com contaminados) e o reforço de fiscalizações municipais para coibir o relaxamento das medidas de prevenção: uso de máscara, dispensador de álcool gel em estabelecimentos comerciais, medição e temperatura e distanciamento (confira mais abaixo).
Os municípios da região em alerta
- Amaral Ferrador
- Arroio do Padre
- Arroio Grande
- Canguçu
- Capão do Leão
- Cerrito
- Chuí
- Cristal
- Herval
- Jaguarão
- Morro Redondo
- Pedras Altas
- Pedro Osório
- Pelotas
- Pinheiro Machado
- Piratini
- Rio Grande
- Santa Vitória do Palmar
- Santana da Boa Vista
- São José do Norte
- São Lourenço do Sul
- Turuçu
Plano de ação aprovado pela Associação dos Municípios da Zona Sul para conter o agravamento da covid-19
- Levantamento de rastreamento dos pacientes agravados buscando idade, doses de vacina recebidas, comorbidades, localidade e todas as demais informações necessárias para a construção de um perfil dos casos atuais
- Acionamento das Vigilâncias Sanitárias para isolar, efetivamente, os positivados
- Realização de busca ativa, tanto para as doses de vacinas como para rastreamento de contactantes visando a realização de exames para a detecção de possível contaminação
- Reforço em fiscalizações municipais para coibir o relaxamento das medidas de prevenção: uso de máscara, dispensador de álcool gel em estabelecimentos comerciais, medição e temperatura, distanciamento
- Fortalecimento da conduta preventiva dentro das comunidades. É preciso incentivar as pessoas a procurarem o atendimento de saúde no período dos primeiros sintomas gripais
- Despertar o sentimento da consciência social, uma vez que precisamos do apoio de toda a sociedade para não retroceder no que diz respeito às flexibilizações de Protocolos, como também, na disseminação do vírus
- Promoção de reuniões de aproximação com grupos de empresários nos ramos de restaurantes e entretenimento para motivar o pedido de apresentação da Carteira de Vacinação entre os clientes
- Projeto de Campanha Publicitária massiva com investimentos em veículos de comunicação da Região para incentivar a procura das pessoas pelas doses da vacina e efetiva conclusão do esquema vacinal proposto